Ritmos afro-brasileiros tomam a cidade de Santo Amaro (BA)
publicado em 06 de setembro de 2007, às 16h50
Iphan inaugura a Casa do Samba de Santo Amaro e promove, no município, um seminário sobre os sambas e batuques do Brasil
Um novo espaço de cultura será aberto em Santo Amaro da Purificação, a 72 quilômetros de Salvador, Bahia. Toda a comunidade do Recôncavo Baiano receberá do ministro Gilberto Gil e do presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, a Casa do Samba de Santo Amaro. Esse centro, instalado no Solar Subaé, antiga mansão do Século 19 que foi totalmente restaurada, será inaugurado no dia 14 de setembro, sexta-feira.
No dia seguinte, 15 de setembro, Gil e abrirá o Seminário Os Sambas Brasileiros: Diversidade, Apropriações e Salvaguarda, no Teatro Dona Canô. O evento contará com a participação de vários especialistas em salvaguarda de patrimônio imaterial e formas de samba brasileiras, que discutirão temas como a patrimonialização de expressões culturais, origens do samba, batuques, umbigadas e MPB. Caetano Veloso fechará o seminário, com uma palestra sobre samba, bossa nova e vanguardas musicais.
Na inauguração da Casa do Samba, às 17h da sexta-feira, dia 14, haverá uma festa popular na rua em frente, exaltando ritmos afro-brasileiros tradicionais. Grupos de tambor de crioula, jongo, partido alto, côco, samba rural paulista, e samba de roda dançarão com o público. Nos intervalos das apresentações, serão a exibidos documentários de patrimônio imaterial, produzidos pelo Iphan.
Na casa, será aberta a exposição permanente Samba de Roda: Memória e Vida, que retrata o conteúdo do dossiê de registro dessa forma de expressão, com a reunião de imagens, textos e objetos representativos da cultura do Recôncavo Baiano. A Casa do Samba de Santo Amaro também vai abrigar um extenso acervo digital - visual, audiovisual, sonoro e escrito - para funcionar como um centro de referência desse patrimônio imaterial.
Uma das principais matrizes do samba brasileiro, o samba de roda foi registrado como patrimônio cultural imaterial pelo Iphan, em 2004, e reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela Unesco no ano seguinte. Manifestação musical, coreográfica, poética e festiva, está presente em todo o estado da Bahia, mas muito particularmente na região do Recôncavo - faixa de terra que se estende por trás da Baía de Todos os Santos.
Entoando cantos estróficos e silábicos, seguidos de pandeiros, viola, prato-e-faca, os sambadores e sambadeiras se organizam em círculo e dançam, dentro da roda, o famoso miudinho - movimentos de sapateados para frente e para trás, com os pés, acompanhados dos quadris. Dentro de casa ou ao ar livre, em um bar, uma praça ou um terreiro de candomblé, não há ocasiões exclusivas para realização do samba de roda, que é dançado tanto em festas católicas, como o Cosme e Damião; quanto em tradições religiosas afro-brasileiras, como os ritos nagô.
A criação de um centro de referência do samba de roda é uma ação prevista no plano de salvaguarda dessa forma de expressão, elaborado à época do registro como patrimônio imaterial. Além da Casa do Samba de Santo Amaro, já houve outras ações de promoção e apoio, como o lançamento do livro Samba de Roda do Recôncavo Baiano, que foi entregue à Associação dos Sambadores e Sambadeiras em junho deste ano. A própria Associação foi criada por intermédio do Iphan. "Quando começamos a fazer o dossiê de registro, havia apenas 14 grupos de samba de roda legalmente constituídos na região do Recôncavo. Nós incentivamos essa cooperativa e hoje há mais de 90 grupos associados", conta Luiz Fernando de Almeida, presidente do Iphan.
Solar Subaé
O Iphan investiu R$ 1,5 milhão no trabalho de restauro do imóvel à Rua do Imperador, número 1, que se situa à beira do Rio Subaé. O sobrado, tombado como patrimônio histórico nacional em 1979, foi construído no final do Século 19. Seu segundo pavimento foi edificado pelo Conde de Subaé para hospedar o Imperador D. Pedro II. Com isso, a casa ganhou um aspecto mais urbano e nobre, uma vez que as casas térreas estavam associadas a padrões rurais e plebeus. Foi, então, decorada com elementos neoclássicos e recebeu um pórtico e uma escadaria vistosa de mármore.
Para ser transformado na Casa do Samba de Santo Amaro, o Solar Subaé passou por um processo de restauração minucioso. Um trabalho que envolveu a recuperação dos vários pisos, das paredes e estruturas, da cobertura e dos forros, das ferragens e até das louças; além de um projeto luminotécnico, novas instalações hidro-sanitárias e adaptação a deficientes físicos. As obras transcorreram com o cuidado de manter as características originais do imóvel, que conferem a ele o seu valor histórico e artístico.
O sobrado vai abrigar uma midiateca digital sobre o samba de roda, com um amplo material de pesquisa levantado entre os grupos de samba, o Instituto de Radiodifusão da Bahia - IRDB, e antropólogos e etnomusicólogos, como Ralph Waddey e Tiago de Oliveira Pinto. Lá também vai ser instalada a sede da Associação dos Sambadores e Sambadeiras do Recôncavo Baiano, que, com o apoio de um conjunto de instituições, será responsável pela gestão da casa.
Está prevista a abertura de um restaurante de comidas típicas no corpo principal do imóvel. O anexo do sobrado ainda está sendo restaurado e lá haverá dois grandes espaços para oficinas de música, dança e confecção de instrumentos; além de um auditório para apresentações e dois alojamentos para grupos do Recôncavo. Por meio da instalação de um Pontão de Cultura, também deverá ser inaugurado um estúdio de gravação para artistas do samba de roda.
Mapa cultural
A identificação e o reconhecimento das formas de samba brasileiras é uma das diretrizes do Iphan, que se insere na proposta da atual gestão do Ministério da Cultura, de construção de um mapa cultural do Brasil. Segundo o ministro Gilberto Gil, essa determinação "faz parte da nossa consolidação democrática e da missão planetária que nos chama".
Entre os 11 bens reconhecidos como patrimônios imateriais brasileiros, se destacam algumas das várias formas de samba dançadas no território nacional. Já receberam o título: o samba de roda no Recôncavo Baiano, o tambor de crioula no Maranhão e o jongo no Sudeste. Esse último, apesar de não ser considerado uma modalidade de samba, é ritmo afro-brasileiro que se utiliza do compasso do batuque. Ainda está previsto para o final deste ano o registro das modalidades de samba carioca, que já foram inventariadas pelo Iphan, em parceria com o Centro Cultural Cartola, e cujo processo se encontra em análise no Instituto.
Segundo Márcia Sant’Anna, diretora do Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan, "o registro do samba de terreiro, do partido alto e do samba-enredo no Rio de Janeiro se insere num projeto, de âmbito nacional, de reconhecimento e valorização das formas de samba que constituem referências culturais fundamentais da população nacional". Ela conta que esse trabalho teve início com o registro do samba de roda do Recôncavo Baiano, em 2004, e deverá abranger ainda o samba de coco nordestino, o samba rural paulista e outros formatos tradicionais dessa forma de expressão tão brasileira.
Serviço:
Entrega da Casa do Samba de Santo Amaro
Abertura da exposição Samba de Roda: Memória e Vida
Apresentação de danças de ritmos afro-brasileiros
Data: 14 de setembro de 2007
Horário: às 17h
Local: Solar Subaé - Rua do Imperador, nº 1 - Santo Amaro da Purificação - Bahia
Seminário Os Sambas Brasileiros: Diversidade, Apropriações e Salvaguarda
Data: 15 de setembro de 2007
Horário: das 10h às 18h
Local: Teatro Dona Canô - Santo Amaro da Purificação/ Bahia
Mais informações:
Assessoria de Comunicação
Programa Monumenta
Tels: (61) 33268907 / 33268014