Monumenta e Iphan resgatam a história da formação de Salvador (BA)

publicado em 05 de setembro de 2007, às 16h54

 

Arqueólogos revelam objetos históricos do Pelourinho, em meio à restauração realizada pelo Programa Monumenta

Durante as obras de restauro da 7ª etapa de intervenção no Pelourinho, em Salvador/ BA, técnicos que trabalhavam no local encontraram uma série de artefatos arqueológicos que remetem à constituição urbana e à formação da sociedade nessa cidade colonial. A descoberta ocorreu em julho de 2006.

Desde então, trabalha ali uma equipe de 20 pessoas, entre técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Programa Monumenta, do Ministério da Cultura. Eles realizam prospecções arqueológicas no subsolo de 24 imóveis, numa área total de 52 mil metros quadrados. As pesquisas receberam investimentos de R$ 474 mil do Monumenta, além do apoio do Governo da Bahia, por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia – Conder.

Segundo estudo da arqueóloga do Iphan, Rosana Najjar, parte da área foi desocupada durante o Século 18, provavelmente por causa da topografia acidentada do terreno, marcada por uma grande depressão (grotão) que margeia a Ladeira da Praça.

Em seu relatório de pesquisa, ela conclui que o grotão, em função das suas características, teria sido utilizado para a criação de animais e cultivo de hortaliças e pequenas plantações de subsistência. “Após a invasão holandesa, em 1624, esta mesma área teria sido inundada pela construção dos diques. Somente com a retomada da Cidade de Salvador pelos portugueses e espanhóis, em 1625, e com o fim dos diques, o grotão passa a ser aterrado, baseado na necessidade de expansão da cidade”, relata Najjar.

A arqueóloga aponta outros motivos para a confecção de aterros, como o preenchimento de depressões naturais do terreno; de trincheiras e de fossos; e a criação de diques e represas. A pesquisadora chama a atenção para o fato do material utilizado para o aterro ser, predominantemente, por fragmentos de cerâmicas e louças.

Em resumo, observou-se, a partir das sondagens, lixeiras domésticas que mostram como viviam os moradores da região desde as primeiras ocupações, e os vários tipos de aterro, que representam e testemunham o processo de expansão urbana e renovação arquitetônica, propiciando novos arranjamentos espaciais.

Objetos históricos
No trabalho de campo, seja nos aterros ou nas lixeiras, foram identificadas cerâmicas datadas a partir do Século 16, com poucos fragmentos passíveis de pertencerem ao período pré-histórico. A decoração desses objetos revela que foram importados de várias partes da Europa e Ásia. “A lixeira doméstica nos forneceu grande quantidade de peças restauráveis, ou mesmo inteiras, como mostrado nas fotos”, ressalta a arqueóloga.

Merece destaque, também, a presença de cerca de 30 cachimbos em cerâmica, provavelmente relacionados à cultura africana, com diversos padrões decorativos.

Entre os materiais de metal coletados, estão cravos, chaves, ferraduras, fechaduras, dobradiças, peças de armas de fogo, bala de canhão, moedas, talheres entre outros. Destaca-se nessa categoria a arma com a pederneira engatilhada, de grande apelo visual.

“Os artefatos são elementos com múltiplos significados e são utilizados pelos indivíduos de uma sociedade para simbolizar suas relações”, explica Najjar. Segundo ela, o arqueólogo deve observar não apenas a sociedade, mas o papel de cada indivíduo, aceitando ou resistindo às regras sociais. ”A fricção entre os indivíduos é a chave para entendermos uma sociedade”, pontua.

O trabalho que Najjar e sua equipe estão desenvolvendo no Pelourinho ainda pretende responder a uma série de questões, entre elas, como se davam relações de classes; qual o perfil dos indivíduos nos diferentes períodos da formação da cidade de Salvador; e, até mesmo, os limites que a cidade já teve.

“Chama atenção a existência de muros, construções que limitam os vários perímetros que a cidade possuiu, e que, inicialmente foram erguidos com intuito de proteção, mas que na realidade eram marcos na paisagem que impunham fronteiras também sociais. Viver dentro ou fora do muro tinha seu significado”, destaca a pesquisadora.

Educação Patrimonial
Para a população local poder conhecer a pesquisa arqueológica da região e a própria história do Pelourinho, serão desenvolvidas atividades educativas sobre o patrimônio baiano. Esse projeto de educação patrimonial contará com o investimento de 31 mil do Programa Monumenta.

Moradores e estudantes da rede pública poderão participar de visitas guiadas e atividades no laboratório de arqueologia, onde terão acesso ao material exumado durante as escavações. Também está prevista a realização de palestras e um círculo de debates com a população, além de oficinas com professores, que serão envolvidos na criação de material didático para ser distribuído nas escolas.

Mais Informações:
Assessoria de Comunicação
Programa Monumenta do Ministério da Cultura
Fones: (61) 3326-8907 e 3326-8014 

 

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