Conselho Consultivo do Iphan analisa novo tombamento e registro em sua última reunião de 2008

publicado em 24 de novembro de 2008, às 13h46

 

Serão apreciados o tombamento de Porto Nacional (TO) e o registro do modo de fazer Renda Irlandesa (SE)

O Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vai se reunir no próximo dia 27 de novembro, no Rio de Janeiro, para decidir sobre o tombamento do Centro Histórico de Porto Nacional (TO) e o registro do modo de fazer a Renda Irlandesa produzida pelas rendeiras de Divina Pastora (SE).

A proposta de tombamento de Porto Nacional se insere nas estratégias atuais de preservação do Iphan que procuram evidenciar contextos históricos associados a porções do território, de modo a favorecer a compreensão dos fenômenos responsáveis pela ocupação e urbanização do Brasil.

Em Porto Nacional, a área proposta para tombamento (que inclui o seu entorno) abrange parte da zona central da cidade e compreende o sítio natural, a malha urbana e as arquiteturas nela implantadas desde a fundação do município até a década de 1960.

No trecho a ser tombado estão localizados, além das edificações vernaculares, os edifícios mais singulares do Centro Histórico, como a Catedral, o Seminário, a Cúria e a Casa de Câmara e Cadeia. O local ainda apresenta remanescentes da maior parte do acervo arquitetônico representativo do período do Ciclo do Ouro (metade do século 18) até meados do século 20. Se o parecer for positivo, o Centro Histórico de Porto Nacional será inscrito no Livro do Tombo Histórico.

O outro bem a ser submetido à aprovação do Conselho é o modo de fazer a Renda Irlandesa da região de Divina Pastora (SE), que pode ser registrado como Patrimônio Cultural do Brasil. Esse município surge como principal território da renda irlandesa porque no local se encontraram os elementos que culminaram com a apropriação do ofício (vinculado originalmente à aristocracia) por mulheres humildes que reinventaram a técnica, o uso e o sentido deste saber-fazer.

Nesse contexto, o ofício é relacionado ao universo feminino e caracterizado como de longa continuidade histórica. Especialmente na metade do século 20, a confecção da renda surgia como uma alternativa de trabalho, e hoje essa tarefa ocupa mais de uma centena de artesãs, além de ser uma referência cultural. A partir de tal apropriação, a renda tornou-se responsável pela ascensão social de muitas que abandonaram o trabalho nas roças para custearam os estudos a partir de sua produção e venda.

A Associação para o Desenvolvimento da Renda de Divina Pastora (Asderen) foi fundada em 2000 com o apoio do Programa Artesanato Solidário. Por meio da pesquisa realizada para o processo de registro, foi iniciada uma ação de salvaguarda. Os pesquisadores, com a colaboração da associação, catalogaram 122 rendeiras entre associadas e não-associadas em Divina Pastora e em sete outras localidades. Essas mulheres foram identificadas e apresentaram informações sobre as potencialidades e fragilidades do Modo de Fazer Renda Irlandesa, que pode ser incluído no Livro de Registro dos Saberes.

Porto Nacional
Merece destaque o fato de Tocantins ser um estado novo, formado a partir da divisão do estado de Goiás em 1988. Sua cultura e suas tradições eram, até aquele momento, descritas como “goianas”, mas a partir da separação criou-se uma questão de reafirmação de identidade para os agora tocantinenses, então destituídos de parte de suas referências culturais.

Apesar de tratar-se de uma divisão político-administrativa, o impacto causado sobre a cultura do novo estado é grande, e semelhante ao que aconteceu no Mato-Grosso do Sul, a população viu-se de um momento para o outro privada de grande parte de seus referenciais históricos (Goiás e Pirenópolis, assim como Cavalcante, se localizam hoje no estado de Goiás). Desta forma, o reconhecimento de Porto Nacional vai valorizar a identidade do povo tocantinense a partir do patrimônio pertencente ao estado do Tocantins, de forma que as antigas ligações, tanto com a região de Minas quanto com o norte do Brasil sejam também ressaltadas.

Renda Irlandesa
A renda irlandesa produzida pelas mulheres de Divina Pastora, bem como em outros municípios de Sergipe, é classificada pelos especialistas como do tipo “renda de agulha”, que apresenta como suporte uma fita presa ou disposta ao debuxo ou risco - desenho realizado sobre papel manteiga e fixado em um papel grosso. O debuxo é o desenho da renda, feito sempre de maneira sinuosa. Após a fixação da fita ao debuxo, diferentes pontos são traçados preenchendo os espaços vazios entre a fita, compondo o tecido da renda.

Os pontos com os quais se faz a renda sofreram re-leituras pelas rendeiras e são, muitas vezes, re-apropriados de outras rendas. No processo de registro estão listadas duas dezenas de pontos apresentados em mostruário, os quais são nomeados com base na analogia com formas semelhantes a animais e vegetais que integram o universo das rendeiras, como por exemplo, pé-de-galinha, espinha-de-peixe, aranha, casinha-de-abelha e abacaxi.

Serviço
Tombamento do Centro Histórico de Porto Nacional e Registro do Modo de Fazer Renda Irlandesa
Data:
27 de novembro
Horário: às 14h
Local: Sala dos Archeiros - Paço Imperial - Praça 15 de Novembro - 48- Rio de Janeiro (RJ)

Fonte: Ascom

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