Iphan deve tombar bens da imigração japonesa em São Paulo

publicada em 22 de junho de 2010, às 13h28

 

Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural decidirá sobre a preservação de quatorze bens que são marcas da cultura dos imigrantes japoneses deixadas no território brasileiro

Dia 18 de junho de 1908 chegou ao Brasil o navio Kasatu Maru, primeira embarcação com imigrantes japoneses que atracou no Porto de Santos. Esses pioneiros foram encaminhados aos campos de fazendas do interior de São Paulo e a partir daí teve início a construção da história dos japoneses em terras brasileiras. A região do Vale do Ribeira, em especial os municípios de Registro e Iguape é onde mais se vêem as marcas das colônias japonesas, seja na paisagem ou nos costumes. 

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) levantou a história dessa região e pretende preservar quatorze bens culturais, entre eles fábricas, igrejas, residências e até as primeiras mudas de chá da variedade Assam (chá preto) plantadas no Brasil. O Conselho Consultivo do Iphan irá avaliar, na próxima quinta-feira (24), o pedido de tombamento desses espaços bens culturais, que compõem a paisagem da imigração japonesa no Vale da Ribeira (SP).

O único bem da imigração japonesa reconhecido como patrimônio cultural brasileiro é o Casarão do Chá, em Mogi das Cruzes (SP), tombado em 1980. O dossiê de tombamento desses outros quatorze bens culturais complementa um trabalho em desenvolvimento no Iphan que possui como temática central a Imigração no Brasil.

A imigração japonesa no país completou este ano seu 102º aniversário. De acordo com o Censo do IBGE de 1940, 91,7% dos imigrantes estavam no estado de São Paulo, entretanto, essa proporção vem diminuindo, e a população nipo-brasileira, formada por quase 1,5 milhão de pessoas, tem difundido sua cultura milenar em todo o país.

História da imigração japonesa
Após séculos de regime político sob o shogunato, o Japão iniciou, durante a segunda metade do século 19, sua “modernização” na chamada Era Meiji. As transformações realizadas levaram a inúmeras revoltas camponesas e a enormes deslocamentos populacionais do campo para os centros urbanos. 

A emigração era incentivada pelo governo, como uma alternativa à superpopulação e numa perspectiva de ocupação expansionista, devido à limitação espacial de seu território. Ao mesmo tempo, no Brasil, faziam-se esforços para substituição da mão-de-obra escrava por assalariados e vivia-se a época da expansão cafeeira.

O primeiro passo para viabilizar a constituição das colônias japonesas no estado paulista foi dado em 1912, com um acordo firmado entre o Governo de São Paulo e o Sindicato de Tókio. O compromisso era de doação de vasta extensão de terras na região, além de concessão de recursos financeiros e de isenção de impostos. Em contrapartida, a instituição japonesa deveria introduzir duas mil famílias na região, num período de quatro anos. O contrato foi repassado pelo Sindicato para a Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (também chamada de Kaiko), que então conduziria toda a colonização japonesa no Vale do Ribeira.

A grande maioria dos imigrantes japoneses eram lavradores, que deixaram uma grande contribuição para a agricultura nacional, introduzindo produtos agrícolas que eram parte de seu cotidiano, como é o caso do arroz. Foram responsáveis pela diversificação da produção agrícola brasileira, principalmente em relação às frutas e hortaliças, trazendo o morango, o poncã, o caqui, a abóbora japonesa, o pepino a acelga, só para citar alguns exemplos. 

As colinas suaves do município de Registro, abrigadas das cheias, ofereceram boas condições para o plantio chá em Registro, onde a mata foi substituída pelos chazais, marcando a paisagem da região. Outro produto típico que os japoneses exploraram nas várzeas foi o junco, usado para produzir as famosas esteiras e chinelos de fibra natural.

O domínio da carpintaria era habilidade de muitos japoneses, técnica secular de sua cultura. Ao chegarem ao Brasil, empregaram estes conhecimentos e seu instrumental específico na construção das edificações. Os ambientes internos de suas eram simples, sem muitas divisórias e poucos móveis. Destacam-se a estrutura de madeira aparente, bem como o uso de tatames e camas de futons. Com o tempo, alguns costumes ocidentais foram sendo incorporados, assim como o mobiliário e o uso de sapatos dentro das residências. 

Primeiras mudas de chá Assam
O plantio do chá preto no país teve início em 1935, quando Torazo Okamoto, imigrante japonês estabelecido na colônia de Registro, introduziu em suas terras a variedade assam, de origem indiana, que apresenta folhas mais largas sendo, portanto, mais produtiva e de maior qualidade. Espalhadas pelo município, fizeram dele o principal produtor e exportador de chá preto do país. 

Dispostas em cinco fileiras acompanhando o declive do terreno, em colina suave situada próxima à Fábrica de Chá Ribeira, as 65 mudas de chá trazidas por Okamoto foram preservadas pela sua família até hoje. São testemunhos da origem e trajetória de vida e de trabalho do imigrante japonês em terras brasileiras, em seu esforço de adaptação e criação de raízes em novo terreno.

O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Formado por 22 conselheiros, especialistas em diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia, é presidido pelo presidente do Iphan Luiz Fernando de Almeida. Ao Conselho Consultivo compete examinar, apreciar e decidir sobre questões relacionadas ao tombamento, ao registro de bens culturais de natureza imaterial e à autorização de saída temporária do país de patrimônio cultural protegido por legislação federal e opinar acerca de outras questões relevantes do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.  

As outras propostas de tombamento que serão discutidos na reunião do dia 24 de junho, no Rio de Janeiro, são: Teatro Oficina, em São Paulo e Paisagens Sagradas do Sagihengu e Kamukwará, dos índios do alto-Xingu, em Mato Grosso.   

Lista de bens da paisagem da Imigração Japonesa em apreciação para tombamento. 
Edificações Fabris e Administrativas
1. Sede da Kaigai Kabushiki Kaisha – KKKK (Registro – Colônia Registro)
2. Fábrica de Chá Shimabukuro (Registro – Colônia Registro)
3. Fábrica de Chá Amaya (Registro – Colônia Registro)
4. Fábrica de Chá Kawagiri (Registro – Colônia Registro)
5. Fábrica de Chá e Residência Shimizu (Registro – Colônia Registro)
6. Engenho, Sede Social e Residência Colônia Katsura (Iguape – Colônia Katsura)

Edificações Residenciais 
7. Residência Fukasawa (Registro – Colônia Registro)
8. Residência Gozo Okiyama (Registro – Colônia Registro)
9. Residência Sra. Susu Okiyama (Registro – Colônia Registro)
10. Residência Família Hokugawa (Registro – Colônia Registro)
11. Residência Família Amaya (Registro – Colônia Registro)

E ainda:
Residência Colônia Katsura (Iguape – Colônia Katsura) – forma conjunto com o Engenho e Sede Social, item 6.

Edificações Religiosas
12. Igreja Episcopal Anglicana (Registro – Colônia Registro)
13. Igreja de São Francisco Xavier (Registro – Colônia Registro)

Patrimônio Paisagístico
14. Primeiras Mudas de Chá da Variedade Assam (Registro – Colônia Registro)

Serviço:
Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Data:
24 de junho de 2010
Horário: de 10h às 18h
Local: Paço Imperial, na Sala dos Archeiros, 2º andar - Praça XV de Novembro, 48 – Centro – Rio de Janeiro

Mais Informações:
Assessoria de Comunicação Iphan 
Mécia Menescal – mecia.menescal@iphan.gov.br
Adélia Soares – adelia.soares@iphan.gov.br
(61) 2024-5449 / 2024-5459
www.iphan.gov.br

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