Pêssankas, tradição ucraniana em cartaz no Espaço da Cultura Popular

publicada em 17 de junho de 2010, às 14h19

 

Promoart + Cultura realiza exposição e venda em Blumenau, SC

Inaugurada no dia 2 de junho, às 19h30, no Espaço da Cultura Popular da Fundação Cultural de Blumenau, SC, a exposição "Pêssankas: ovos escritos, poemas imagéticos" oferecendo ao público a oportunidade de conhecer e adquirir as pêssankas produzidas por artesãos descendentes de ucranianos da comunidade de Iracema, distrito do município catarinense de Itaiópolis. A mostra ficará em cartaz até 31 de agosto.

A exposição é uma realização do Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart) da Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro (Acamufec) em convênio com o Ministério da Cultura no âmbito do Programa Mais Cultura.  O Promoart conta com a gestão conceitual e metodológica direta do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) / Departamento de Patrimônio Imaterial do Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e com a parceria institucional e apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

Pêssankas são “ovos escritos”, pois a palavra deriva do verbo pessati que significa escrever. Nas pêssankas, cada traço, figura e cor tem significados especiais – por exemplo, as figuras de peixes remetem ao cristianismo, as de flores, ao amor e à felicidade, as de animais, como o cavalo, à riqueza e à saúde. O roxo, na pêssanka, é a cor da alta vibração e representa a fé e a confiança, o amarelo é a cor consagrada às divindades da luz - lua e estrelas – e simboliza pureza e luz, boa colheita e sabedoria, e assim por diante. Alguns desses símbolos são comuns em toda a Ucrânia; outros são específicos de determinada região daquele país. No Brasil, estão presentes na produção atual, conservando significados que expressam a intenção daquele que faz da pêssanka objeto para presentear parentes e amigos. 

As pêssankas confeccionadas pelos artesãos de Iracema fazem parte dos costumes trazidos pelos imigrantes ucranianos que vieram para o Brasil no final do século 19, em busca de melhores condições de vida, e mantidos ainda hoje por seus descendentes. Entre esses costumes estão a língua, a culinária, a intensa religiosidade – são católicos do rito oriental – e o rico artesanato.

Em Iracema, existem variações no modo como as pêssankas são feitas. Uma delas é muito disseminada entre os moradores, que as produzem especialmente na Semana Santa. Ainda crus, os ovos são desenhados com cera de abelha derretida. Depois, cozidos em água misturada a pigmentos naturais ou artificiais. Em seguida, com um pano macio, a cera é retirada e, assim, as imagens inscritas com a cera se revelam. Juntas a outros alimentos, como manteiga, pães, lingüiça, toucinho, carne de porco assada, bolos e hrim – mistura de raiz forte, beterraba e temperos –, as pêssankas são levadas para a bênção do padre, que percorre toda a comunidade, visitando as residências onde as pessoas aguardam reunidas.

Essas pêssankas são consumidas como alimento bento no café da manhã do domingo de Páscoa. Os ovos são descascados, cortados em fatias e oferecidos pelo chefe de família aos demais, com a saudação “Hréstos voskrés” (Cristo ressuscitou), a que os demais respondem: “Voisténu voskrés” (Verdadeiramente ressuscitou).

Outra modalidade de pêssanka presente em Iracema é produzida principalmente por Célia Miretki e suas aprendizes. São ovos não-comestíveis e que servem como amuleto contra infortúnios, desastres e problemas de saúde. Podem conter a clara e a gema ou serem esvaziados, como vem acontecendo atualmente. Sua técnica de produção envolve um processo de ocultamento e revelação, pois as camadas de cores vão se sucedendo aos desenhos com cera de abelha, até o ovo estar completamente enegrecido. É o calor da chama da vela que derrete a cera aplicada e revela as imagens ali impressas.

Maurício Linécia, natural de Iracema, hoje residindo em Curitiba (PR), inovou a produção de pêssankas acrescentando novos materiais e técnicas. Utiliza ovos de madeira torneados e ovos de avestruz esvaziados, recobertos por tinta acrílica e fina camada de verniz. A técnica utilizada por Maurício também utiliza a superposição de cores, mas contraria o processo de visualização da técnica tradicional, pelo qual as imagens sofrem um processo de ocultamento e posterior revelação. Nas mãos do artista, as imagens se revelam a cada momento, pincelada a pincelada, em um processo de construção plenamente visível, extremamente minucioso e delicado.

Reedição de mostra de mesmo nome realizada em 2008, na Sala do Artista Popular do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, no Rio de Janeiro, a exposição "Pêssankas: ovos escritos, poemas imagéticos" se constitui como ação do Promoart no local, um dos 65 polos artesanais nos quais o Programa pretende desenvolver ações com a finalidade de criar uma rede de apoio aos produtores de artesanato tradicional que atue em questões que vão da produção à comercialização em grandes centros, de modo a minimizar as barreiras que dificultam e, por vezes, até mesmo impedem a livre expressão de artistas e artesãos. 

Serviço:
Exposição "Pêssankas: ovos escritos, poemas imagéticos"
Inauguração:
02 de junho de 2010
Horário: às 19h30
Período: 03 de junho a 31 de agosto de 2010
Exposição e venda: De segunda a sexta-feira, das 8 às 12h e 13h30 às 17h30; sábados, domingos e feriados, das 10 às 16h
Local: Espaço da Cultura Popular / Fundação Cultural de Blumenau, SC - Rua XV de Novembro, 161 - Centro, Blumenau, SC

Apoio
ONG de Cultura Popular de Blumenau, SC

Parceria local
Casa da Cultura de Itaiópolis, SC
Prefeitura de Itaiópolis, SC
Bermo

Parceria institucional e apoio financeiro
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

Realização
Fundação Cultural de Blumenau, SC / Espaço da Cultura Popular
Prefeitura de Blumenau, SC
Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
Iphan / Departamento de Patrimônio Imaterial
Promoart +Cultura /  Ministério da Cultura

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