Aloísio Magalhães, o nome que inovou as políticas de patrimônio

Presidente do Iphan na década de 80, Aloísio Magalhães foi responsável pela criação do Centro Nacional de Referências CulturaisAloísio Sérgio Barbosa Magalhães nasceu em Recife, Pernambuco, no dia 05 de novembro de 1927 e faleceu no dia 13 de junho de 1982, na Cidade de Pádua, Itália. Formou-se em Direto pela Universidade Federal de Pernambuco (1950). Em 1951 foi para Paris, onde frequentou o Atelier 17, um centro de divulgação de técnicas de gravura e estudou museologia na Escola do Museu do Louvre. 

Ao retornar ao Brasil, em Recife, participou do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP) como cenógrafo e figurinista, além de ter sido responsável pelo Teatro de Bonecos. Em 1954, fundou, juntamente com José Laurenio, Gastão de Holanda e Orlando da Costa Ferreira a editora O Gráfico Amador, oficina experimental de artes gráficas, cuja finalidade era publicar, em tiragens limitadas, textos literários breves, sobretudo poesia (Magalhães, Aloísio. E Triunfo?: a questão dos bens culturais no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Fundação Roberto Marinho, 1997. Pág. 31).

Sua importância, no entanto, adquiriu caráter fundamental para a cultura brasileira quando, em 1975, o Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC) inicia suas atividades, ainda nas dependências da Universidade de Brasília, sob a coordenação de Aloísio Magalhães. Seu objetivo principal era realizar o traçado de um sistema referencial básico para ser empregado na descrição e na análise da dinâmica cultural brasileira, no qual deveria comportar e adequar, com base em uma visão prospectiva, diferentes áreas de conhecimento e que tivesse as seguintes características: a) Adequação às condições específicas do contexto cultural do país; b) abrangência e flexibilidade na descrição dos fenômenos que se processam em tal contexto, e na vinculação dos mesmos às raízes culturais do Brasil; e c) explicitação do vínculo entre o embasamento cultural brasileiro e a prática das diferentes artes, ciências e tecnologias, objetivando a percepção e o estímulo nessas áreas, de adequadas alternativas regionais.

Tendo tais diretrizes como norteadoras das atividades desenvolvidas pelo CNRC, em seus quatro anos de existência, Aloísio Magalhães e sua equipe, predominantemente multidisciplinar, formada por matemáticos, físicos, museólogos e antropólogos, entre outros, elaboraram diversos conceitos e desenvolveram novos olhares sobre o patrimônio cultural brasileiro. 

Inserida na dinâmica de atuação adotada no CNRC estava “a ideia de um organismo capaz de identificar ao longo do contexto cultural brasileiro formas peculiares de atuação, modo de vida, comportamento, etc, que são os tais indicadores latentes que se explicitados dariam uma configuração de identidade cultural” (Entrevista concedida ao Jornal Correio Braziliense, em 1982). 

A partir dessa contextualização, fica evidenciado que a gestão de Aloísio Magalhães inseriu no âmbito das políticas públicas de cultura o reconhecimento dos bens culturais não mais por valores estéticos ou com características “eruditas”, mas pelo valor que a sociedade atribuía aos mesmos. Dessa maneira, as manifestações de grupos e comunidades passam a ter seu protagonismo, agora, nas mãos de seus detentores. A síntese dessa visão poderia ser representada pela frase “a comunidade é a principal guardiã do bem cultural”. 

Ao utilizar termos como o “saber-fazer”, ao se preocupar com os modos de produção artesanal, ao institucionalizar uma abordagem socioeconômica do cultural, que se preocupava com os conhecimentos e alternativas de desenvolvimento local, ao priorizar o produto cultural como processo, na relação direta com o agente produtor e seu meio-ambiente, Aloísio Magalhães inseriu no discurso sobre patrimônio cultural o sujeito homem em suas mais diversas manifestações. Seu legado está na Constituição brasileira e na consagração do patrimônio imaterial. 

Nas palavras de José Mindlin “a preservação da memória nacional, que nele constituía quase uma idéia fixa, se fez através da Fundação Pró-Memória e da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artistíco Nacional. Com seu incrível dinamismo, fez surgir, repentinamente, na Secretaria de Cultura do Ministério da Educação e Cultura, uma atividade que parecia impossível antes de ele assumir as responsabilidades que lhe foram atribuídas. Obteve recursos, cuidou pessoalmente de conciliar tendências e interesses divergentes, e estruturou um esquema que funcionou" (...)

Referência:
MINDLIN, José. Aloísio Magalhães: um "designer" polivalente. In: ALOISIO Magalhães e o desenho industrial no Brasil. São Paulo: FIESP/CIESP, 1983. p. 2.

Compartilhar
Facebook Twitter Email Linkedin