Romaria de Carro de Boi, de Goiás, pode ser novo Patrimônio Cultural Brasileiro

Romeiro durante a Romaria de Carros de Boi da Festa do Divino Pai Eterno de Trindade (GO), em 2014A identidade cultural de um povo muitas vezes está ligada à sua crença e, principalmente, à simbologia que envolve a tradição das práticas e celebrações religiosas. Por sua relevância como referência cultural e representatividade da vida rural, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural se reunirá, no dia 15 de setembro de 2016, para deliberar sobre a proposta de registro da Romaria de Carros de Boi da Festa do Divino Pai Eterno de Trindade (GO), como Patrimônio Cultural do Brasil.

Na 82ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que ocorrerá na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília (DF), também serão apreciados os pedidos de tombamento do antigo edifício do Supremo Tribunal Federal (STF), no Rio de Janeiro e da Casa da Flor, localizada em São Pedro da Aldeia (RJ).

Fé e devoção pelas estradas de Goiás
A devoção ao Divino Pai Eterno, em Trindade, começou volta de 1840, quando um casal encontrou um medalhão entalhado com a imagem do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Desde então, muitas pessoas peregrinam até a região em função da sua devoção, caracterizando esta prática como imersa no catolicismo popular. Os carros de bois eram, antigamente, o principal meio de transporte para as famílias das zonas rurais, para viagens de longas distâncias. Por isso, a Romaria de Carros de Bois da Festa de Trindade, especificamente, está relacionada às antigas práticas cotidianas da vida rural. Ainda hoje, permanece como uma tradição cultural, reiterada no convívio familiar por sua representatividade no que se refere às antigas vivências de homens e mulheres do campo. 

O epicentro da romaria é em Trindade, mas os devotos saem de diversas cidades de Goiás e de estados próximos, do Centro-Oeste e também do Sudeste. 

A preparação para a romaria envolve diversas atividades, como reparos eventuais nos carros de bois, de mantimentos que serão consumidos, ofertados ou vendidos durante o trajeto, entre outros. Essas atividades são executadas por homens e mulheres que dividem o trabalho equivalente à prática no cotidiano da vida rural.

Os carreiros, candeeiros e demais participantes da Romaria de Carro de Bois se colocam na posição de herdeiros, guardiões e transmissores de costumes da vida rural, que vem sofrendo, nas últimas décadas, profundas mudanças com o advento da modernização que avança na região. Ao usarem um meio de transporte tido por anacrônico na atualidade, rememoram os tempos dos seus antepassados e até mesmo o da infância e reconstroem, ano após ano, a tradição da vida rural e das devoções.

Os romeiros e o Santuário
No século XIX, quando a pequena medalha de barro com a imagem da Santíssima foi encontrada, famílias de amigos e vizinhos começaram a se reunir para rezar o terço em louvor ao Divino Pai Eterno. Por alguns anos, a devoção foi praticada naquele ambiente familiar, entretanto, com o crescimento do número de devotos, foi construída por volta de 1843 uma capela coberta de folhas de buriti, para que o público tivesse acesso permanente à relíquia. Tempos depois, em 1866, com as esmolas dos fiéis, foi possível erguer uma capela maior e encomendar ao escultor Veiga Valle a imagem da Santíssima Trindade. O crescente fluxo de romeiros justificou a construção de uma nova Igreja. 

Em 1911, um dia após a festa, iniciaram as obras no edifício, que foi reinaugurado no ano seguinte, durante a romaria. É este último templo, também conhecido como Santuário Velho, que foi tombado pelo Iphan em 2013. 

A igreja materializa a ocupação do interior do país, em que pessoas simples, amparadas em sua fé e movidas por um ideal comum, migram, instalam-se em uma porção de terra e sacralizam o que então era um lugar comum. A construção tem relação direta com a romaria de cerca de 2,5 milhões de devotos que acontece anualmente à cidade e, desde sua primeira construção, em 1843, é polo dinamizador dessas expressões culturais, sendo um componente referencial do evento.

O Conselho Consultivo 
O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro pleiteados ao Iphan é formado por especialistas de diversas áreas como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 22 conselheiros que representam o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - Icomos, a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.

Serviço:
82ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Dia:
15 de setembro de 2016, de 9h às 18h
Local: Sede do Iphan - SEPS 713/913 Bloco D – Ed IPHAN – Brasília (DF)

Mais informações para a imprensa:
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