Proteção da cultura indígena é tema de reunião no Iphan

O cacique Kanato Yawalapití, do Parque do Xingu, e Álvaro Tukano, diretor do Memorial dos Povos Indígenas estiveram na manhã desta sexta-feira, 24 de março, com a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, para solicitar auxilio à proteção da cultura indígena.

Acompanhado da assessora especial do Ministério da Cultura, Ione Carvalho, e do programador educacional da Fundação Nacional do Índio (Funai), Guilherme Carrano, o cacique Kanato, filho de uma das principais lideranças do povo Xingu, Aritana Yawalapiti - relatou ao Iphan as preocupações da comunidade com a apropriação e uso indevidos por parte de terceiros dos símbolos sagrados expressos em pinturas, que representam momentos de luta, de alegria, de luto entre outros. Algumas delas, explicou o cacique, só podem ser utilizadas dentro da comunidade apenas por lideranças.  

O diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial, Hermano Queiroz, e o coordenador Geral de Identificação e Registro (DPI/Iphan), Deyvesson Gusmão, que participaram do encontro, ressaltaram a disposição do Instituto em auxiliar a comunidade, dando como exemplo as ações empreendidas pelo Iphan em caso semelhante ocorrido com o povo Wajãpi, e apontaram os limites de atuação do Iphan com questões dessa natureza.

Outra apreensão do cacique Kanato é sobre o desaparecimento da língua Yawalapití, falada por apenas seis índios dentre os 300 do grupo. Sobre a questão, foi apresentado o trabalho desenvolvido pelo Iphan por meio do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), instrumento oficial de identificação, documentação, reconhecimento e valorização das línguas faladas pelos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira criado em 2010 via Decreto nº 7.387.

Desde então, foram reconhecidas seis línguas indígenas: A língua Asurini, que pertence ao tronco Tupi, da família linguística Tupi-Guarani, em Tucuruí (PA); a língua Guarani Mbya, identificada como uma das três variedades modernas da língua Guarani e as línguas Nahukuá, Matipu, Kuikuro e Kalapalo, de família linguística Karib e falada na região do Alto Xingu (MT). 

A sétima língua reconhecida pelo INDL é a Talian, uma das autodenominações para a língua de imigração falada no Brasil onde houve ocupação italiana, desde o século XIX, nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Espírito Santo. 

Já o diretor do Memorial dos Povos Indígenas, Álvaro Tukano, trouxe, entre outras questões, a necessidade de valorização das ações desenvolvidas pelo Memorial, espaço projetado por Oscar Niemeyer e construído em 1987 em forma de maloca redonda dos índios Yanomami.  

Patrimônio Indígena
As ações de salvaguarda realizadas pelo Instituto em conjunto com os povos indígenas buscam, sobretudo, viabilizar a continuidade e transmissão dos saberes e práticas relacionados aos bens culturais registrados. Esta atuação compartilhada tem contribuído para o reconhecimento e valorização da diversidade de povos indígenas existentes no Brasil, ainda pouco conhecida dentro e fora do País. Saiba mais sobre as formas de expressão e lugares de povos indígenas registrados: 

Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi 

Arte de pintura corporal dos índios Wajapi

A Arte Kusiwa é um sistema de representação gráfico próprio dos povos indígenas Wajãpi, do Amapá, que sintetiza seu modo particular de conhecer, conceber e agir sobre o universo. Como Patrimônio Imaterial, a Arte Kusiwa foi inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão em 2002. 

Cachoeira de Iauaretê – Lugar sagrado dos povos indígenas dos rios Uaupés e Papuri
A Cachoeira de Iauaretê, ou Cachoeira da Onça - Cachoeira de Iauaretê - Lugar Sagrado dos Povos Indígenas dos Rios Uaupés e Papuri - corresponde a um lugar de referência fundamental para os povos indígenas que habitam a região banhada pelos rios Uaupés e Papuri, reunidos em dez comunidades, multiculturais na maioria, compostas pelas etnias de filiação linguística Tukano Oriental, Aruaque e Maku. Sua inscrição no Livro de Registro dos Lugares foi realizada em 2006. 

Tava, Lugar de Referência para o Povo Guarani
Enquanto patrimônio cultural, a Tava converge significados e sentidos atribuídos pelo povo indígena Guarani-Mbyá ao sítio histórico que abriga os remanescentes da antiga Redução Jesuítico-Guarani de São Miguel Arcanjo (RS). Para o povo Guarani, a Tava é de suma importância por ser o local onde viveram seus antepassados. O local foi inscrito no Livro de Registro dos Lugares, em 2014. 

Ritxòkò – Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá e Saberes e práticas associados aos Modos de Fazer Bonecas Karajá    
A Ritxòkò - Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá foi inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão, em 2012, em conjunto com os Saberes e Práticas Associados ao Modo de Fazer Bonecas Karajá.  

Ritual Yaokwa do Povo Indígena Enawene Nawe
O Ritual Yaokwa é a mais longa e importante celebração realizada por este povo indígena, que habita uma única aldeia localizada na região noroeste do estado do Mato Grosso. Inscrito no Livro de Registro de Celebrações, em 2010, esse ritual é considerado a principal cerimônia do complexo calendário ritual dos Enawene Nawe, povo indígena de língua Aruak. 

Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro
O Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro é compreendido por um conjunto de saberes e práticas que congregam plantas cultivadas, espaços, redes sociais, cultura material, sistemas alimentares, cosmologias e oralidade, ancorado no cultivo da mandioca brava (manihot esculenta) e cuja base social abrange 22 etnias do noroeste amazônico.

Compartilhar
Facebook Twitter Email Linkedin