Renda Irlandesa (SE): do risco de extinção à sustentabilidade

O próximo 07 de abril, marcará uma nova fase de produção da renda irlandesa produzida em Sergipe. Um trabalho realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) possibilitará que as rendeiras de quatro municípios sergipanos ganhem autonomia na fabricação do lacê, matéria prima utilizada para a produção do bem considerado Patrimônio Cultural do Brasil desde 2009. 

Durante o sábado, as rendeiras dos núcleos de Divina Pastora, Laranjeiras, Maruim e Nossa Senhora do Socorro estarão reunidas para receber treinamento que as ensinará a operar o maquinário que fabrica o lacê. Após o treinamento, outras nove máquinas compradas pelo Instituto serão doadas para as associações e cooperativas das rendeiras desses quatro núcleos.  

O famoso artesanato local sofria com a dificuldade de se obter o material, sendo por muito tempo constante preocupação das rendeiras. A falta no mercado do lacê, um cordão achatado, sedoso e flexível – essencial para continuidade do ofício de fazer Renda Irlandesa nos moldes de Divina Pastora – foi agravado com a crise da fábrica que produzia e fornecia o lacê na época. 

Conhecendo os problemas enfrentados para continuidade da prática, o Iphan deu início a uma busca nacional por maquinário que produzisse o lacê. Após várias tentativas, o equipamento que atenderia as exigências técnicas foi finalmente identificado em uma fábrica de São Paulo, e, utilizando um Termo de Ajustamento de Conduta, o Iphan conseguiu adquirir dez máquinas que serão entregues às detentoras. 

A renda irlandesa, executada com base no cordão de lacê, deu visibilidade às rendeiras locais, principalmente de Divina Pastora e passou a ser um dos itens mais destacados do rico artesanato sergipano. O lacê tornou-se a marca específica dessa renda. É o que explica Eric Ferreira Souza, técnico do Iphan que contribuiu desde o início com a busca, “O lacê tem para as rendeiras um significado muito forte, sendo o diferencial da sua renda tanto no sentido da produção, quanto na distinção dos trabalhos produzidos em outras regiões do Brasil. A busca pela matéria prima exigiu muita dedicação do Iphan, e o resultado de salvaguarda foi melhor que o esperado”, conclui.  

O caminho das linhas que resultam em desenhos complexos ressaltam a prática e saberes passados de geração a geração, numa referência cultural e elemento constitutivo de diferenciação e identidade. A atividade delicada que exige atenção minuciosa é traçada por mãos firmes. Atualmente, mais de uma centena de mulheres dedica-se à renda irlandesa, melhorando as condições de vida de suas famílias. 

Para as rendeiras dos quatro núcleos de produção, a renda irlandesa é recurso nos seus diversos sentidos. Recurso econômico, pois várias delas conseguiram construir ou mobiliar suas casas com a venda de peças de renda e, além disso, puderam ascender socialmente por meio da educação formal, custeada também pelos ganhos com comércio da renda. A iniciativa do Iphan possibilitará não somente a sobrevivência do Patrimônio Cultural, como também uma maior autonomia econômica das rendeiras, segundo destaca a presidente do Iphan, Kátia Bogéa. “Este é um exemplo claro da relação entre patrimônio cultural e desenvolvimento socioeconômico. Cabe a todos nós realçar a potencialidade da cultura como fator de transformação positiva na vida de uma comunidade, cidade ou região”. 

O Patrimônio Cultural do Brasil
O Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência este ofício em Divina Pastora, no Estado de Sergipe, é relacionado ao universo feminino e vinculado, originalmente, à aristocracia. A partir, especialmente, da metade do século 20, a confecção da renda surgia como uma alternativa de trabalho, e hoje essa tarefa ocupa mais de uma centena de artesãs, além de ser uma referência cultural. O Modo de Fazer Renda Irlandesa foi inscrito no Livro de Registro dos Saberes, em 2009. 

Constitui-se de saberes tradicionais que foram re-significados pelas rendeiras do interior sergipano a partir de fazeres seculares, que remontam à Europa do século XVII, e são associados à própria condição feminina na sociedade brasileira, desde o período colonial até a atualidade. Trata-se de uma renda de agulha que tem como suporte o lacê, cordão brilhoso que, preso a um debuxo ou risco de desenho sinuoso, deixa espaços vazios a serem preenchidos pelos pontos. Estes pontos são bordados compondo a trama da renda com motivos tradicionais e ícones da cultura brasileira, criados e recriados pelas rendeiras.

O saber-fazer é a qualidade mais característica da produção da Renda Irlandesa, a qual é compartilhada pelas rendeiras sob a liderança de uma mestra reconhecida pelo grupo. As mestras traçam o risco definidor da peça, que é apropriado coletivamente. Fazer Renda Irlandesa é, portanto, uma atividade realizada em conjunto, o que permite conversar, trocar ideias sobre projetos, técnicas e pontos. Neste universo de sociabilidades, são reafirmados sentimentos de pertença e de identidade cultural, possibilitando a transmissão da técnica e o compartilhamento de saberes, valores e sentidos específicos.

Mais Informações
Assessoria de Comunicação do Iphan

Fernanda Pereira - fernanda.pereira@iphan.gov.br
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Modo de Fazer Renda Irlandesa

  • SE_IMAT_Renda_Irlandesa
    De origem aristocrática, a Renda Irlandesa torna-se, em meados do século XX, uma opção popular de fonte de renda
  • SE_IMAT_Renda_Irlandesa
    O trabalho envolve o preenchimento dos espaços entre os fios de base, realizado manualmente com linha e agulha.
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    O Modo de Fazer Renda Irlandesa reúne saberes tradicionais re-significados pelas rendeiras do interior sergipano
  • SE_IMAT_Renda_Irlandesa
    Após a fixação do fitilho ao papel, compondo o desenho do bordado, os espaços são preenchidos pelas rendeiras
  • SE_IMAT_Renda_Irlandesa
    A linha e agulha são utilizados para a cuidadosa confecção do bordado sobre a base de papel.
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