Expressão cultural amapaense, o Marabaixo, é reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil

Cortejo e Benção da Murta SeafroO marabaixo é
uma festa de tradição
Lembra uma história de luta
de uma antiga geração
(Trecho da música de Marabaixo Tradição, de Marli Costa)

Composta por ritmo, dança, vestimentas, comida, bebida e estilo literário próprio, o Marabaixo é uma manifestação cultural praticada em especial pelas comunidades negras do Amapá. No dia 08 de novembro, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu o essa manifestação como Patrimônio Cultural do Brasil. Por ser uma forma de expressão que reúne referências culturais vivenciadas e atualizadas pelos amapaenses, fundamental para a construção e afirmação da identidade cultural negra brasileira, além de compor a memória, a identidade e a formação da nossa sociedade, o Marabaixo será registrado no Livro de Registro das Formas de Expressão. Nos dias 08 e 09, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural votará, também será votado o reconhecimento de outros dois bens do Norte como Patrimônios Culturais do país: Boi Bumbá do Amazonas e Geoglifo do Acre. 

Fruto da organização e identificação predominante entre as comunidades negras do Amapá, o Marabaixo é uma expressão cultural de devoção e resistência que representa tradições e costumes locais. A origem do nome remete aos escravos que morriam nos navios negreiros; seus corpos eram jogados na água e os negros cantavam hinos de lamento mar abaixo e mar acima. Os negros escravizados passaram a fazer promessas aos santos que consagravam, e quando a graça era alcançada se fazia um Marabaixo. Sua herança é deixada de pai para filho, e está associada ao fazer religioso do catolicismo popular em louvor a diversos santos padroeiros. 

Cortejo e Benção da Murta SeafroA mistura afroamazônica de dança, caixas, ladrões e gengibirra
A dança do Marabaixo se faz arrastando os pés, representando os antepassados escravizados com os pés acorrentados. Segundo praticantes, é uma dança que veio desde a escravidão, e que naqueles tempos os negros se reuniam para dançar, tocar, cantar e reviver suas lembranças. Hoje, o Marabaixo é dançado em círculo, com o corpo das dançantes movimentando para frente, para trás e para os lados e em giros ao redor do próprio corpo, rodando as longas saias floridas. Além da saia rodada, diversos acessórios, como pulseiras e colares, e um ramalhete de flores na cabeça são usados pelas mulheres.

O toque dos tambores, chamados de caixas, dá ritmo e melodia aos ladrões, como são conhecidos os versos cantados. O ladrão é um verso improvisado, feito a partir de um acontecimento ou um fato do cotidiano de quem o compõe e da vida das pessoas, que se transforma em música. Ladrão é porque se rouba a estória, transformando-a em músicas e cantando para todos na festa. Os versos podem ser feitos até da própria tristeza. Enquanto os puxadores cantam o ladrão no centro da roda, colocando os versos, os outros participantes, ouvintes e convidados entoam o refrão. E, dessa roda, gera-se a força musical que reúne e conclama a todos os visitantes a participarem da manifestação.

As caixas são cilíndricas, cobertas por duas peles nas extremidades e ajustadas ao corpo do tocador com auxílio de uma faixa. Possui cores, signos e desenhos variados que podem ser relacionados com a santidade homenageada e suas bandeiras. Eram fabricadas de tronco de madeira, o pau era tirado da vargem onde cavava-se dia após dia até ficar completamente oca. Hoje, só os aros que ainda são feitos da Corubeira ou do Ipê. Os tambores são feitos com madeiras e outros materiais reciclados. A prática cultural é recriada pelas comunidades e grupos em função do ambiente e da interação com a natureza e história gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.

Geralmente o Marabaixo acontece em lugares abertos, demostrando sua natureza convidativa e inclusiva. Sempre há uma cozinha, onde são feitos fartos caldos de carne e legumes e a tradicional gengibirra, bebida feita à base de gengibre, água, açúcar e cachaça, servida à vontade aos participantes.

Levantamento do MastroAonde tu vai rapaz
Por esses caminhos sozinho
Vou fazer a minha morada
Lá nos campos do Laguinho
(Ladrão tradicional do Marabaixo)

O Marabaixo no Amapá
A organização das festas de Marabaixo acontece de maneiras diferentes na capital e no interior do estado. O Ciclo do Marabaixo ocorre em Macapá durante período pascal e constitui em importante tradição de sincretismo religioso brasileiro homenageando a Santíssima Trindade e o Divino Espírito Santo, com missas, cortejo e ladainha. A parte lúdica da festa se manifesta por meio da dança do Marabaixo, de ritmo forte e passos arrastados, marcados pelos tambores, acompanhando os ladrões. Outro evento que reúne os grupos de Marabaixo é o Encontro dos Tambores que acontece na Semana da Consciência Negra. É dançado também em outras ocasiões, como apresentações em eventos diversos, nas praças, escolas e aberturas de cerimônias oficiais.

Nas comunidades rurais do Amapá, o Marabaixo aparece nos festejos de santos padroeiros. Nessas comunidades, as festas acontecem quando um devoto faz uma promessa ao santo de devoção e a graça é alcançada. O festeiro organiza e oferece uma festa para sua comunidade. Tanto na capital quanto no interior do estado, nas festas de Marabaixo são oferecidos aos festeiros e aos visitantes a gengibirra e os caldos. 

O Registro do Marabaixo como Patrimônio Cultural do Brasil é relevante por um lado, pelo reconhecimento da presença das ancestralidades africanas na formação social e cultural do Amapá e da Amazônia como um todo. Por outro, representa uma política federal de reconhecimento e valorização do bem, além da possibilidade de implementação de ações que procure assegurar as condições de transmissão e reprodução dessa manifestação cultural. Pode-se, assim, ampliar as iniciativas de fortalecimento e divulgação dessa forma de expressão, dando maior visibilidade aos detentores, àqueles os quais a vida cotidiana é indissociável do Marabaixo.

Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, antropologia, arquitetura e urbanismo, sociologia, história e arqueologia. Ao todo, são 22 conselheiros, que representam o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), o Ministério da Educação, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), o Ministério do Meio Ambiente, Ministérios das Cidades, e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.

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