Projeto de Antônio Prado (RS) vence Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade

Publicações preservam tanto o talian, língua local, quanto as histórias e modos de fazer de imigrantes italianos e seus descendentes

Agulha, linha e muitas histórias. A memória e os costumes de um povo, contados ponto a ponto pelo projeto Tecendo Memórias, do Rio Grande do Sul

Agulha, linha e muitas histórias. A memória e os costumes de um povo, contados ponto a ponto, é o tema do projeto Tecendo memórias, contos e cantos – Registro das histórias de tradição oral dos imigrantes italianos no Rio Grande do Sul, vencedores do Prêmio Rodrigo na categoria 2 - Iniciativas de excelência no campo do Patrimônio Cultural Imaterial - Segmento 4 -  Pessoas Físicas e representantes de grupos ou coletivos.

Tudo começou em 2005, com a dissertação de mestrado Lembranças de infâncias: narrativas entrelaçando espaços-tempo na cidade de Antônio Prado que deu origem ao livro Buscando sonhos, que ganhou uma segunda edição em 2015. Mais do que coletânea d contos, as publicações relatam o acervo precioso da tradição oral dos italianos que povoaram a serra do Rio Grande do Sul, perpetuando suas histórias de vida, tradições e modos de fazer.

Em meados do século XIX, o casamento era um momento importante para as mulheres de ascendência italiana que viviam na serra gaúcha. Em meio à paisagem repleta de araucárias e casarios de madeira, elas começavam os preparativos para o enlace muito cedo, ocupando-se, entre outras tarefas, de bordar seus próprios enxovais. Nesse momento, de certa forma, costuravam o próprio futuro.

Longe de serem ocasiões solitárias, as rodas de bordadeiras eram embaladas por diversos contos e histórias recitados em talian, dialeto trazido pelos imigrantes que fundaram e povoaram Antônio Prado. Ponto a ponto, esse ritual costurou, durante anos, a tradição oral dos habitantes da região, além do modo de fazer dos bordados.

Tecendo memórias, contos e cantos – Registro das histórias de tradição oral dos imigrantes italianos no Rio Grande do SulAlém dos livros o projeto motivou a exposição dos panos bordados cuidadosa e tradicionalmente por essas mulheres, e a composição e gravação de canções em talian, em parceria com músicos italianos. Considerado a segunda língua dos habitantes de Antônio Prado, esse dialeto é reconhecido como referência cultural brasileira pelo Iphan, no Inventário Nacional de Diversidade Linguística (INDL).

Mais do que manter vivas as tradições costuradas por várias gerações de pioneiras, a organização também investe em iniciativas educacionais. Há um acordo com a Secretaria Municipal de Educação de Antônio Prado para um projeto piloto de educação patrimonial com base nas informações contidas nos livros. Além disso, os afazeres dos colonos, o imaginário infantil e o cotidiano dos antepassados são alguns temas que podem que podem ser trabalhados em currículos da educação formal a partir do conteúdo das publicações, criando um vínculo com entre a população e seus bens culturais de se descosturar.


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