Sistema Agrícola Tradicional Quilombola doa quinze toneladas de alimentos em São Paulo (SP)
Ação organizada para amenizar os impactos causados pela pandemia do novo coronavírus beneficiou mais de 700 famílias
Da roça direto para a mesa de quem precisa. Os alimentos orgânicos cultivados no Sistema Agrícola Tradicional Quilombola – registrado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) - ganharam um sabor especial neste período marcado pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Vinte e seis produtos da pesca caiçara e da roça dos quilombos foram incluídos em cestas básicas doadas para comunidades que se encontram em situação vulnerável no estado de São Paulo (SP) devido à limitação de renda.
Uma das cestas chegou na hora certa à casa de Terezinha de Jesus Freitas, 64 anos. Ela mora com outras cinco pessoas no Jardim Amália, região do Capão Redondo. “Para a minha família foi uma bênção. São coisas de qualidade. Agradeço muito ao pessoal que enviou as cestas. Um trabalho muito especial.”
A ação organizada pela Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira (Cooperquivale) contemplou até o momento 716 famílias, com 15 toneladas de alimentos.
“A gente estava sem poder escoar nossos produtos. Juntos, criamos uma ação solidária. Foi muito bom ajudar quem está precisando nessa pandemia”, afirmou Rosana de Almeida, do Quilombo Nhunguara, coordenadora financeira da Cooperquivale.
Foram beneficiadas 18 aldeias Guarani, dois quilombos, moradores dos municípios de Eldorado e Iporanga (SP) atendidos por organizações como a Ação Social e a Associação Mulheres Unidas por uma Vida Melhor (Amuvim), e moradores da zona sul da capital paulista, atendidos pela ONG Bloco do Beco e coletivos parceiros.
“Os Guarani têm o costume de trabalhar em núcleos familiares, em plantações de subsistência, e não se pensa muito em grandes quantidades. Eles não estavam preparados para a paralisação da pandemia”, afirmou Ataide Vherá Mirim, morador da aldeia. “Os produtos recebidos foram bem aceitos e estão aprovados.”
Os beneficiados receberam de forma emergencial, entre outros produtos, mandioca, cará, chuchu, abacate, diferentes variedades de banana, laranja, palmito, mel, farinha de mandioca, rapadura, taiada e cinco tipos de pescados - parati, corvina, tainha, salteira e bagre - de comunidades tradicionais da Ilha do Cardoso e região e beneficiados em peixe seco pela Comunidade Caiçara da Enseada da Baleia.
“Produção entregue, alívio pelo trabalho coletivo cheio de força, união e de saber que nosso peixe agora vai para mesa em receitas caiçaras, trazendo sabores e lembranças”, disse Tatiana Mendonça Cardoso, caiçara da Enseada da Baleia. “O cuidado e o respeito seguem na transformação até chegarem à mesa dos nossos parentes indígenas e quilombolas”, acrescentou.
Para ajudar a suprir as necessidades básicas, também foram entregues junto com as cestas alguns produtos de higiene.
“É uma alimentação que preencheu as pessoas de afeto”, relatou Andrea Arruda, psicóloga e professora que faz parte dos coletivos Periferia Segue Sangrando e 8M na Quebrada. “Fiquei muito emocionada de ver quem eram as pessoas que produziram o alimento e todo o trabalho que foi feito para esse alimento chegar até aqui”, finalizou.
A iniciativa de distribuição das cestas foi realizada com apoio de Instituto Linha D'Água, Associação dos Moradores da Enseada da Baleia, Instituto Socioambiental, Good Energies e União Europeia.Ao todo, 39 grupos sociais, entre aldeias indígenas, comunidades quilombolas e caiçaras, trabalhadores rurais e urbanos de nove municípios já pediram alimentos. E os pedidos de famílias continuam a chegar. A demanda atual mapeada é de cerca de mil cestas de alimentos por mês.
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