Biodiversidade para a vitalidade de línguas indígenas é tema de publicação

Pode parecer improvável para o público em geral, mas a verdade é que a biodiversidade está diretamente relacionada à diversidade linguística. Pesquisadores estimam que existam aproximadamente 7 mil línguas em todo o planeta, mas somente 4% são faladas por mais de 90% da população mundial. Um dos fatores para a perda dessa diversidade lingüística está diretamente relacionado à diminuição da biodiversidade na Terra. Dados de 2019 da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas em Serviços de Biodiversidade e Ecossistemas (IPBES) – da qual participam quase 100 países – revelam que um milhão de espécies naturais está hoje em perigo de extinção. 

 Para apresentar essa correlação foi produzida a edição  Línguas Indígenas e Naturezas. Desafios frente à perda de mundos, recentemente publicada pelo periódico online Das Questões - Filosofia, Tradução, Arte. A iniciativa apoiada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é um dos resultados do Encontro sobre Diversidade Linguística Indígena realizado no Brasil em 2019 e que, junto com II Congresso Internacional sobre Revitalização de Línguas Indígenas e Minorizadas, integraram a agenda global do Ano Internacional das Línguas Indígenas da Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (Unesco).  

Para a edição especial da revista eletrônica foram convidados falantes de línguas indígenas advindos de universidades, organizações da sociedade civil e movimentos  sociais  que  compartilharam  suas  reflexões,  estudos  e  experiências sobre as múltiplas relações entre línguas e mundos. Os textos foram escritos por autores e autoras indígenas de diversos países como Brasil, México, Guatemala, Kenia e Nepal e estão publicados em línguas coloniais e indígenas, acompanhados ou não de traduções completas, mas sempre com resumos em línguas coloniais como o espanhol, português e inglês. As contribuições trazem relatos de experiências, estudos  acadêmicos, ensaios e narrativas diversas em prosa e poesia, o que amplia a diversidade de modos de dizer, pensar e sentir os mundos que abordam.

A Professora da Universidade mexicana Veracruzana, Juliana Meçon e os técnicos do Iphan, Marcus Vinícius Garcia e Thaís Werneck, organizadores da publicação, destacam que “a perda de línguas e de mundos construídos pelas sociedades indígenas empobrece o presente e o futuro de todos”. De acordo com os organizadores, a edição especial da revista é um gesto de aliança e de esforço simbólico para “alimentar a vida desses mundos, suas línguas, paisagens, relações, sensibilidades, processos de cura, resistências, sonhos e esperanças”. A capa da revista traz a obra elaborada em janeiro de 2020 intitulada: Mural "hilos que reconectar", produzida pelo coletivo Chiwik Tajsal de mulheres artesãs do povo maseual, em colaboração com o coletivo de muralistas Tlalmino. Hueyapan, Puebla, México.

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