Edição 2015

Na 28º edição, o concurso premiou iniciativas de sete estados brasileiros (Ceará, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina) dividido em duas categorias. Ao todo, foram 234 projetos inscritos de 22 unidades da federação, sendo que 57 foram finalistas da etapa nacional. Essa edição fez homenagem à cidade do Rio de Janeiro, com a temática Rio 450 anos – Patrimônio Mundial Paisagem Cultural Urbana. A titulação de patrimônio mundial, concedida pela UNESCO, nesta categoria, foi concedida em 2012. 
Os vencedores em cada categoria foram os seguintes: 

Categoria I - Iniciativas de excelência em técnicas de preservação e salvaguarda do Patrimônio Cultural:

Documentário Remeiros do São Francisco (MG). Proponente: Dêniston Fernandes Diamantino. Durante 50 minutos, é narrada a trajetória de homens que, desde o século 19 até a década de 1950, riscaram as águas do Rio São Francisco com seu trabalho, esforço físico e, também com suas memórias que, assim como as águas, ficaram turvas. Com fotos, textos e depoimentos é remontada a figura do remeiro que trabalhavam empurrando barcas de 10 a 20 metros de comprimento por até 4 metros de largura que iam rio acima. Transportavam até 50T de mantimentos como rapadura, cachaça, sal, café e outras iguarias. Esse movimento comercial contribuiu de maneira efetiva para o movimento de ocupação das regiões cortadas pelo Rio São Francisco que vai da Serra da Canastra em Minas Gerais até os estados de Alagoas e Sergipe, no Nordeste. Nesses lugares, os remeiros eram responsáveis por todo movimento de trocas econômicas e culturais. 

Ilé Omiojúàrò: Patrimônio Cultural (RJ). Proponente: Beatriz Moreira da Costa – Mãe Beata de Iemanjá. O projeto promove ações de preservação dos saberes e valores da cultura africana. As iniciativas que vêm sendo desenvolvidas, desde 1985, têm como objetivo a preservação da ancestralidade por meio da produção de documentários, organização de palestras e saraus, levantamento do acervo de bens móveis e integrados ao patrimônio do terreiro, além de ações educativas. As diversas frentes de atuação são responsáveis por envolver a comunidade e promover esses bens culturais para além dos muros do terreiro, contribuindo para o reconhecimento das manifestações de matriz africana.  O terreiro foi idealizado pela baiana Beatriz Moreira Costa, conhecida como a Mãe Beata de Iemanjá. Além de se dedicar à comunidade e a preservação do patrimônio, Mãe Beata atua contra o preconceito racial, religioso, político e cultural, mantendo a memória e a tradição africana, em um lugar sagrado de produção de significados e conhecimento. 

Preservação da Tradição e da Cultura do Centro Oeste Goiano através da trilogia de Bariani Ortêncio (GO). Proponente: Bariani Ortêncio. Preocupado com a preservação de costumes típicos da região, o folclorista Bariani Ortêncio se empenhou, durante anos, em registrar as raízes do Brasil Central em livros. Foi assim que nasceu sua trilogia literária composta pelas obras “Dicionário do Brasil Central”, “Cozinha Goiana” e “Medicina Popular do Centro-Oeste”, que englobam e eternizam as expressões linguísticas, a culinária e a medicina popular dessa terra. O “Seu Bariani”, como dizem em Goiás, veio de São Paulo para o centro do Brasil ainda bem moço. Desde então, se encantou pela cultura da região e dedicou boa parte dos seus 92 anos a contar e recontar histórias do Cerrado

Levantamento das casas enxaimel de Blumenau (SC). Proponente: Paulo Roberto Volles. A cidade de Blumenau (SC), fundada pelo farmacêutico alemão Hermann Blumenau, em 1850, é famosa por preservar a forte influência cultural germânica. Um desses traços é a permanência da arquitetura tradicional elaborada pela técnica Enxaimel, feita a partir de estruturas de madeira que se encaixam e são complementadas com tijolos em seus vãos. O intuito do projeto é realizar um levantamento detalhado pela região da atual quantidade existente de casas enxaimel históricas e autênticas, além de criar um banco de dados e imagens para pesquisas posteriores. Esse tipo de construção tradicional de extrema complexidade, apesar de ser resistente e representar um forte traço cultural dos habitantes da região, começou a entrar em declínio e parar de ser produzido, principalmente, após a repressão de estrangeiros, na década de 1940.

Categoria II - Iniciativas de excelência em promoção e gestão compartilhada do Patrimônio Cultural: 

Grupo Uirapuru - Orquestra de Barro (CE). Proponente: Instituto 3 ARTE – Arte, tecnologia e educação. A ação consiste na produção de instrumentos musicais feitos de barro, a comunidade pode reestabelecer suas conexões culturais e ainda promover a formação musical, a inserção na em uma cadeia produtiva criativa dos participantes envolvidos e divulgar a valorizar os conhecimentos tradicionais da cerâmica por meio da circulação do Grupo, que já foi contemplado e reconhecido por diversos projetos. A Orquestra de Barro busca transformar por definitivo sua comunidade, utilizando-se de ferramentas de reinvenção das tradições, de inclusão sócio-cultural e da geração de renda, numa região com baixo índice de desenvolvimento humano. Assim, por meio da música e da arte há o resgate dos direitos culturais por um caminho de cidadania e educação que fecha uma cadeia que irá promover a formação dos jovens e a preservação sustentável de seu patrimônio cultural. 

Re(vi)vendo Êxodos (Distrito Federal). Proponente: Luis Guilherme Moreira Baptista. Estudar a história do Distrito Federal e do entorno, conhecer a cultura local, as condições etnográficas e o patrimônio e identidade foram os objetivos que nortearam uma equipe de professores do Centro de Ensino Médio Setor Leste, escola pública de Brasília, a criar o projeto. A ideia nasceu quando estudantes e professores visitaram, à época, a exposição do renomado fotógrafo Sebastião Salgado, intitulada Êxodos, que, segundo o próprio fotógrafo, retrata a transição da humanidade.  A partir de então foi proposto que os jovens participantes fotografassem a cidade com o propósito de explorar de distintos olhares a identidade brasiliense, assim como fez Sebastião Salgado com outros povos. 

Do Buraco ao Mundo: Segredos, rituais e patrimônio de um quilombo-indígena (PE). Proponente: Nivaldo Aureliano Léo Neto. Para chegar ao quilombo indígena de Tiririca dos Crioulos é preciso indicar que está no sertão de Pernambuco, na Serra do Arapuá, município de Carnaubeira da Penha. Por esse afastamento dos centros urbanos, muito de seus moradores, que não ultrapassa o 200, achavam estar no buraco do mundo. Mas essa concepção pejorativa se modificou quando os moradores passaram a reconhecer a existência de um rico e diverso patrimônio cultural por meio da ação. Neste projeto, não se pode identificar apenas um proponente, uma vez que a comunidade inteira é realizadora. A ideia nasceu de um projeto de extensão da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com alunos que começaram a atuar na comunidade com a coleta de referências culturais. O diferencial foi uma busca participativa, na qual não se tinha a dicotomia: grupo dos pesquisadores e o grupo da comunidade pesquisada. Segundo consta na apresentação da iniciativa “devido as suas articulações e a (re) valorização do seu patrimônio, os tiririqueiros querem sair do buraco e conquistar um mundo de possibilidades”. 

Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros (GO). Proponente: Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge. A Chapada dos Veadeiros, conhecida por sua paisagem estonteante e pelo parque nacional que tem o título de Patrimônio Natural Mundial da Unesco, nos últimos quinze anos, no mês de julho, ganha ares de encantamento: uma profusão de cores, sons, línguas, raças e expressões artísticas de comunidades tradicionais de todos os cantos do país e do exterior marca o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros. Mais de cem mil pessoas já foram diretamente alcançadas pelo projeto ao longo destes anos, em momentos de troca e valorização da cultura tradicional e popular. Agora, a proposta de incentivar o exercício da cidadania, a proteção do meio ambiente, o fortalecimento das manifestações tradicionais, a preservação das referências culturais, a difusão e consolidação do patrimônio imaterial.

Confira a revista com mais informações sobre a edição 2015

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