História - Piracuruca (PI)

A história de Piracuruca está ligada aos diversos acontecimentos relacionados com a expulsão dos franceses do Forte de São Luís, no Maranhão, e à ocupação das terras indígenas situadas na região da Serra da Ibiapaba. No século XVII,  os portugueses caçavam índios na região e, logo depois, chegaram os primeiros aventureiros provenientes do Maranhão, Bahia, Ceará e Pernambuco, determinados a implantar fazendas de gado na região ou em busca do sonho de enriquecimento fácil, com a esperança de encontrar ouro e outros metais preciosos

Essa vasta região (onde estão os atuais municípios de Cocal, Piripiri, Pedro II, Batalha, Domingos Mourão, Brasileira, São José do Divino, Buriti dos Lopes) era habitada pelos índios Tocariju e Alongá. Em 1621, as terras que constituem o Piauí e Ceará foram incluídas no território do Estado Colonial do Maranhão, transformado, em 1654, no Estado do Maranhão e Grão-Pará. Na mesma época, as terras do Piauí foram desmembradas do controle do Maranhão, tendo como limite o rio Parnaíba e ficando sob o domínio do Estado Colonial do Brasil. 

Havia a procura dos caminhos de ligação entre o Ceará e o Maranhão, o que resultou na expansão da catequese missionária e, também, nas guerras de extermínio dos índios Tremembé. A povoação de Piracuruca nasceu da Fazenda Sítio, localizada à margem direita do rio Piracuruca, distante cerca de 180 quilômetros da sua nascente na Serra Grande ou Serra da Ibiapaba  (divisa entre Piauí e Ceará). O rio banha a cidade que lhe deu o nome: Pirarucura, na língua Tupi significa “peixe que ronca” e vem de pirá (peixe) e curuca (roncar ou resmungar), ou pirac’uruca, em uma ligeira deformação de pronúncia. Suas margens são repletas de lajedos que, em princípios do século XVIII, foram responsáveis por um grande projeto que marcaria a cidade para sempre.

Quando os dois irmãos portugueses José e Manuel Dantas Correia chegaram à região havia um povoado e rebanhos de gado em fazendas, e os moradores praticavam agricultura de subsistência. Presume-se que Manoel e José fossem “ïrmãos leigos” da Companhia de Jesus. Na localidade, existia uma capela onde eram feitos os serviços religiosos da freguesia. Os irmãos, recém-chegados de Portugal, andavam pelas cercanias do rio Piracuruca em busca de minas e outras riquezas, mas foram aprisionados pelos índios Cariri, permanecendo por algum tempo em cativeiro. 

Desesperados, eles fizeram uma promessa para Nossa Senhora do Carmo: se saíssem com vida, construiriam uma igreja de pedra em homenagem à santa, sem utilizar argamassa. Depois de libertados, iniciaram a construção, em 1718, e a concluíram muitos anos depois. Das margens do rio Piracuruca, os irmãos Dantas retiraram as lajes de pedra que sustentariam a igreja, e o corte regular e as reentrâncias em ângulo reto das pedras são o testemunho do esforço feito na época para erguer o templo. É possível observar as marcas vagas dos pedaços retirados que deram firmeza e forma à igreja matriz. As pedras estão presentes na vida de Piracuruca.

A construção da igreja - considerada o mais belo templo religioso do Piauí - contribuiu para aumentar e consolidar o povoamento nas proximidades da Fazenda Sítio (depois Piracuruca). José Dantas Correia deixou Piracuruca no processo de edificação do prédio da igreja, sendo ignorado o seu destino. Manuel Dantas Correia prosseguiu sozinho o seu trabalho e, quando morreu, por volta de 1743, o templo ainda não estava totalmente concluído: faltava a cobertura, feita após 1772. 

Na mesma época, Sebastião José de Carvalho e Mello (Conde de Oeiras e Marquês de Pombal) secretário de Estado do Rei Dom José, de Portugal, ordenou a instalação da Capitania de São José do Piauí e a implantação de vilas. Em 1718, o distrito do Piauí foi elevado à condição de Capitania, até então subordinada ora à Bahia, ora ao Maranhão. A freguesia do Monte de Nossa Senhora do Carmo de Piracuruca surgiu antes de 1742. Freguesias ou curados eram núcleos populacionais com capela ou igreja, onde um padre se encarregava da evangelização dos habitantes daquele núcleo populacional e das localidades próximas.

Enquanto viveram, em Piracuruca, os irmãos fundaram diversas fazendas de criação de gado e todos os seus bens foram deixados para a padroeira, e a igreja acumulou enorme riqueza: terras com grandes fazendas de gado, benfeitorias e carnaubais, patrimônio destinado à manutenção dos interesses da igreja e a atender ao seu calendário de festas e atividades religiosas. A região era ponto de passagem obrigatório dos negociantes que se dirigiam ao Porto de Parnaíba, o que acelerou o seu desenvolvimento. 

O Piauí existia como província desde 1758, quando foi nomeado, por Carta Régia, o primeiro governador da Província, major João Pereira Caldas. A criação dessa governadoria nada mais foi que a tentativa de acalmar os ânimos entre os ricos sesmeiros, homens poderosos e truculentos, e os posseiros, também truculentos e ferozes que se fixaram na região trabalhando as terras. Em 1760, foi criado o distrito com a denominação de Piracuruca e, em 1784, instituída a Irmandade de Nossa Senhora do Carmo de Piracuruca, para manter o patrimônio da santa, administrar o cemitério e zelar pela igreja. Em 1832, Piracuruca passou à condição de vila e, em 1889, à condição de cidade dias após a Proclamação da República. Em 1923, recebeu, proveniente de Luiz Correia e Parnaíba, a primeira composição ferroviária da Estrada de Ferro Central do Piauí, com locomotiva movida à lenha e vários vagões de carga e passageiros. 

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