Concurso Sílvio Romero - Edição 2010
Ao todo, 50 monografias foram recebidas na edição 2010 do Concurso Sílvio Romero. Dessas, duas foram desclassificadas pela comissão julgadora por não cumprirem os pré-requisitos previstos no edital. Como previa o edital, dois trabalhos foram premiados e três receberam menções honrosas.
1° lugar: Jocelito Zalla (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) - O centauro e a pena: Luiz Carlos Barbosa Lessa (1929-2002) e a invenção das tradições gaúchas
A monografia é uma biografia histórico-intelectual do folclorista, militante tradicionalista e escritor sul-riograndense Luiz Carlos Barbosa Lessa (1929-2002), com o objetivo de analisar sua trajetória intelectual e sua obra para acessar o processo de construção/atualização das representações sobre a figura do gaúcho pampiano e a elaboração de projetos coletivos de identidade regional e de "invenção de tradições" nela baseados, desenvolvidos, principalmente, na segunda metade do século XX. Assim, puderam-se abordar questões como o binômio cultura popular/cultura erudita; o popular como objeto/constructo intelectual; as reflexões entre o movimento folclórico brasileiro e o movimento tradicionalista no Rio Grande do Sul; a salvaguarda estatal do popular/gauchesco; e os vínculos entre memória pública e identidade social.
2° prêmio: Cristina Eira Velha (Universidade de São Paulo) - De Zabumba de seu Manuel a Banda de Pífanos de Caruaru: história musical e significação da cultura oral na cultura brasileira (1924-1939)
Por meio do estudo minucioso da prática musical da Banda de Pífanos de Caruaru em sua trajetória musical, cultural e social, a autora buscou compreender os sentidos constitutivos de sua cultura no sertão nordestino, entre 1924 e 1939, e a dinâmica das relações sociais e culturais estabelecidas a partir de sua inserção na cultura urbana a partir do final dos anos de 1960, em Caruaru, Rio de Janeiro e São Paulo, nos meios de comunicação e na indústria fonográfica. A autora refletiu, desse modo, sobre o processo de trocas culturais, transformações e permanências na prática e linguagem musical da Banda na sua interação particular com o mundo moderno, em um processo de circularidade, presente na cultura brasileira. Dessa forma, o estudo exigiu uma abordagem multidisciplinar baseada no diálogo entre a história da cultura, a etnografia e a etnomusicologia.
1ª menção honrosa: Fernanda Pires Rubião (Universidade Federal Fluminense) - Os negros do Rosário: memórias, identidades e tradições no Congado de Oliveira (1950-2009)
A pesquisa tem por objetivo analisar os significados políticos e de identidade do Congado da cidade de Oliveira, em Minas Gerais, uma festa de devoção a Nossa Senhora do Rosário, desde os anos de 1950 até 2009. Esse recorte cronológico justifica-se pela importância atribuída pelos congadeiros à data de 1950 que representa o reinício dos festejos, paralisados em diversos anos.
Os negros do Rosário, por intermédio do ritual festivo - com suas danças e cânticos - relembram o seu passado, construindo e resignificando a sua identidade e estabelecendo tradições culturais para o Congado.
Foram enfocadas, principalmente, questões como a relação da comunidade de congadeiros com a prefeitura e alguns representantes da igreja católica, os conflitos internos, a afirmação de sua identidade de negros do Rosário, assim como uma luta política e a reconstrução da memória.
2ª menção honrosa: Ana Carolina Carvalho de Almeida Nascimento (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - O sexto sentido do pesquisador: a experiência etnográfica de Edison Carneiro
A autora propôs no trabalho uma reflexão sobre a experiência etnográfica de Edison Carneiro, em Salvador (BA), nos anos de 1930. Ela lançou a hipótese de que nesse período, Carneiro se elaborou subjetivamente enquanto um pesquisador de campo, definindo uma identidade cultural que o particularizaria em relação aos seus mestres, Nina Rodrigues e Arthur Ramos. Ao travar encontros e negociações com pais e mães-de-santo de terreiros de candomblé nagôs, bantos ou caboclos, Edison Carneiro escreveu sua própria história do candomblé da Bahia. A autora procurou dialogar com as leituras correntes da obra do autor no campo que se convencionou chamar dos estudos afro-brasileiros. Ela explorou também a ideia de que Carneiro atua como um mediador entre os universos aos quais está vinculado: intelectuais e nativos, antropologia brasileira e norte-americana, centro e periferia, papel que seria permitido pela ambiguidade constitutiva de sua própria figura.
3ª menção honrosa: Simone da Conceição Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - A gente não esquece porque a gente sabe o que vai dizer: uma etnografia da cantoria de pé-de-parede da zona da Mata de Pernambuco
O trabalho é um estudo etnográfico da cantoria de pé-de-parede da Zona da Mata de Pernambuco. O pé-de-parede é uma reunião de fim de semana que tem maior incidência no segundo semestre do ano e congrega amigos, vizinhos e parentes no quintal de uma casa ou em um estabelecimento comercial semelhante a um bar, para escutar uma dupla de poetas-cantadores criando versos de improviso. O objetivo dessa etnografia foi compreender o significado da cantoria para as pessoas do contexto estudado e também apresentar a gênese da figura do poeta e o processo pelo qual o mesmo se insere na cantoria, desenvolve a habilidade de cantador e se torna "profissional".
A monografia buscou demonstrar que a cantoria é um espaço de socialização entre amigos, parentes, vizinhos e familiares, como também o lugar onde o prestígio e a honra locais são reafirmados e um dom que intermedeia as relações daqueles que dela participam. O material etnográfico permitiu discutir pontos envoltos no ato da organização e realização desse evento, entre eles a interface entre as mudanças ocorridas no âmbito da realização da cantoria e as transformações socioeconômicas da Zona da Mata a partir dos anos de 1960; a constituição da viola enquanto uma oportunidade de profissionalização frente ao trabalho na lavoura; a relação de reciprocidade e a criação e reafirmação de laços e papéis sociais no ambiente da cantoria, uma singular forma de sociabilidade e, por fim, os vários sentidos que as pessoas dão ao dinheiro desde a organização à realização do evento.
Comissão julgadora:
Angela Elizabeth Lühning, doutora em Musicologia, professora titular da Universidade Federal da Bahia, Áurea da Paz Pinheiro, doutora em Historia Cultural, professora adjunta da Universidade Federal do Piauí, Eliana Lucia Madureira Yunes, doutora em literatura, professora associada da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Gilmar Rocha, doutor em antropologia, professor adjunto do Departamento Interdisciplinar do Polo Universitário Rio das Ostras (RJ) da Universidade Federal Fluminense (UFF/PURO), Rivia Ryker Bandeira de Alencar, doutoranda em Antropologia Social, representante do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, Departamento de Patrimônio Imaterial/Iphan.