Prêmio Luiz de Castro Faria 2013
A primeira edição do Prêmio Luiz de Castro Faria foi realizada em 2013. Os trabalhos inscritos foram avaliados por comissão julgadora formada por representantes do Centro Nacional de Arqueologia (CNA) e do Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização, ambos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); e do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia/PUC-GO.
Inicialmente, o edital previa a premiação em três categorias: monografia de graduação, dissertação de mestrado e tese de doutorado. Mas não houve vencedores na primeira categoria. Diante disso, e considerando o mérito dos trabalhos apresentados, a comissão julgadora retificou o edital, após decidir pela divisão proporcional do valor do prêmio de monografia entre os segundos colocados das categorias mestrado e doutorado. Por isso, a primeira edição do concurso teve quatro premiados:
Categoria II - Dissertação de Mestrado
1º lugar: Irislane Pereira de Moraes (Universidade Federal do Pará) - Do tempo dos Pretos d´antes aos Povos do Aproaga: patrimônio arqueológico e territorialidade quilombola no vale do rio Capim (PA)
Essa dissertação se construiu a partir do diálogo entre a Antropologia e a Arqueologia, na busca de compreender os usos e significados que o patrimônio arqueológico assume no âmbito das relações sociais contemporâneas, em específico, aqueles construídos segundo a lógica de povos e comunidades tradicionais. Entendido como categoria etnográfica, o patrimônio permite vislumbrar significados que os quilombolas pertencentes às comunidades Taperinha, Nova Ipixuna, Sauá-Mirim, Benevides e Alegre Vamos, no município de São Domingos do Capim (PA), elaboram em torno do sítio arqueológico Aproaga. Na luta pela titulação definitiva do seu território, os quilombolas se autodefinem Povos do Aproaga, nesse contexto, a consciência cultural possibilita a construção da identidade coletiva.
Em torno das ruínas históricas do engenho colonial, a memória social quando os Pretos d’antes foram escravos restitui e fortalece no presente as referências culturais e fronteiras étnicas em consonância ao sentimento de pertencimento ao Aproaga. Assim, a arqueologia pública e etnográfica possibilita compreender as dinâmicas e relações sociais do presente e suas fruições com o passado, os significados da cultura material, bem como, as dimensões étnicas que o patrimônio pode vir a assumir no contexto de direitos territoriais de comunidades descendentes e/ou de origem. Porquanto, a territorialidade quilombola construída pelos Povos do Aproaga implica pensar de maneira crítica sobre as políticas do patrimônio na Amazônia, e mais amplamente a reflexividade da pesquisa tendo em vista uma práxis descolonial da ciência.
2º Lugar: Marcela Nogueira de Andrade (Universidade Federal do Piauí) - Conservação Integrada do Patrimônio Arqueológico: uma alternativa para o Parque Estadual Monte Alegre – Pará
Esse livro é resultado de um trabalho de dissertação de Mestrado em Antropologia e Arqueologia pela Universidade Federal do Piauí, desenvolvido a partir da discussão da relevância da preservação do patrimônio arqueológico. A área de estudo refere-se ao Parque Estadual Monte Alegre-PEMA, no Estado do Pará, Brasil, sendo uma Unidade de Conservação criada para a preservação arqueológica, ambiental e geológica. Porém, a realidade local do PEMA não condiz com a finalidade para o qual foi criado, constatando um quadro de degradação das pinturas e conflitos entre as comunidades locais e os órgãos públicos. Diante dessa realidade, buscou-se compreender e propor a abordagem de conservação integrada, considerando que para a preservação do patrimônio arqueológico é necessário ações para a conservação dos sítios, bem como a realização de políticas públicas voltadas para a preservação do PEMA e ainda a identificação das comunidades locais com esse patrimônio.
Esse foi o grande desafio que resultou na análise da conservação de seis sítios de arte rupestre; da relação das seis comunidades com o patrimônio arqueológico e o PEMA; e das políticas públicas efetivadas para a área. O patrimônio arqueológico brasileiro está a cada dia sendo descoberto, estudado, conhecido e visitado. É considerado como importante fonte de conhecimento das origens do homem e a divulgação desse conhecimento é de extremo valor social. Os sítios arqueológicos são expostos a várias alterações de ordem natural e/ou antrópica, tornando-se vulneráveis a um processo de degradação.
Devido a sua relevância científica, social, patrimonial e histórica, o patrimônio arqueológico precisa ser conservado. No município de Monte Alegre, existem vários sítios arqueológicos expostos a diversos problemas de conservação, desde os que afetam diretamente o patrimônio arqueológico até os relacionados às políticas públicas e à vivência da comunidade com os mesmos. É com este intuito que se desenvolve o presente trabalho, o qual objetiva identificar, compreender e analisar a conservação integrada de seis sítios de arte rupestre localizados no Parque Estadual Monte Alegre: Pedra do Mirante, Serra da Lua, Gruta do Pilão, Painel do Pilão, Pedra do Pilão e Gruta Itatupaoca.
Categoria III - Tese de Doutorado
1º Lugar: Louise Prado Alfonso (Universidade de São Paulo) - Arqueologia e Turismo: sustentabilidade e inclusão social
O trabalho busca refletir sobre a importância de uma abordagem interdisciplinar na Arqueologia, em especial acerca do papel do Turismo como disciplina útil e interessante para fomentar uma reflexão sobre projetos que visem a uma Arqueologia descolonizante e cumpridora de seu papel social. Neste estudo, outras duas disciplinas se mostram importantes, a saber, a Antropologia e a Museologia. A partir de exemplos internacionais que propiciam elementos para incrementar o debate sobre como o Turismo Arqueológico vem sendo pensado em outras realidades, realiza-se aqui uma breve análise acerca de atrativos arqueológicos nacionais desenvolvidos para o Turismo Convencional brasileiro. Essas discussões permeiam três estudos de caso em que o Turismo inserido em projetos de Arqueologia foi propulsor de reflexões sobre os bens patrimoniais, dando ensejo a possibilidades de sustentabilidade e inclusão social para as comunidades envolvidas.
2º Lugar: Carlos Alberto Santos Costa (Universidade de Coimbra) - Representações Rupestres no Piemonte da Chapada Diamantina (Bahia, Brasil)
O objeto de estudo desta pesquisa são os sítios de representações rupestres do Piemonte da Chapada Diamantina. O problema inicial de investigação parte da discussão da noção de tradição na arqueologia brasileira e da sua aplicação nos estudos das representações rupestres no Nordeste do país. Este caminho levou a constatação de que os signos geométricos identificados são estudados de maneira parcial, em decorrência da dificuldade de apreensão de seus conteúdos e por dispor de formas representadas universalmente, argumento contrário a perspectiva de construção de cenários arqueológicos regionais. Na contramão desta compreensão, neste trabalho buscou-se verificar se os signos geométricos identificados no Piemonte apresentavam repertórios gráficos significativos, de maneira a se constituir como elementos para construção de cenários arqueológicos regionais.
Para atingir este objetivo partimos para a observação da paisagem do Piemonte da Chapada Diamantina, quando levantamos dados sobre a sua conformação (geotectônica, geologia, geomorfologia, solos, hidrografia, clima, vegetação, paleopaisagem e uso atual), conduzindo à compreensão dos locais escolhidos pelos grupos humanos para a ocupação e entendendo os fatores que evidenciam a relação de reciprocidade entre o homem e o meio. Com esta base, estudamos os sítios rupestres, supondo existir significados subjacentes às pinturas e adotando a noção de gramática para análise das 49 jazidas arqueológicas levantadas. A partir desta perspectiva, foi possível indicar três perfis gráficos específicos para a região, provavelmente fruto de uma sucessão de momentos distintos de ocupação do território, dentre os quais o mais expressivo é formado quase exclusivamente por símbolos geométricos. A partir do estudo de caso é possível concluir que as representações geométricas constituem importantes fontes para construção de panoramas arqueológicos regionais, além dos dados possibilitarem induzir diretrizes específicas para a observação da região e, consequentemente, para a continuidade futura dos estudos arqueológicos no Piemonte da Chapada Diamantina.