Iguape (SP)

O conjunto histórico e paisagístico da cidade de Iguape, em São Paulo, foi tombado pelo Iphan, em 2011. Esse patrimônio apresenta diversas características formais do urbanismo português, como a localização e escolha do sítio e sua relação com o território, elementos estruturantes do traçado urbano, as estruturas de quarteirão e loteamento, além do papel importante das praças. Os bens tombados, no município, também representam o esforço do imigrante japonês em seu processo de adaptação ao território nacional, como ocorreu em Registro, distrito de Iguape.

Sua arquitetura é uma mistura das técnicas construtivas brasileiras e orientais, e testemunho da origem, trajetória de vida, e trabalho do imigrante japonês, encontrados no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo. As edificações (casas e sobrados de pedra e cal) remontam ao período da exploração aurífera no século XVI (Ciclo do ouro), das atividades ligadas à construção naval a partir de meados do século XVIII, e da cultura de arroz (século XIX) e do chá (século XX) diretamente vinculadas à imigração japonesa para a região.

O Centro Histórico de Iguape é o primeiro conjunto urbano do Estado de São Paulo a ser protegido pelo Iphan, como Paisagem Cultural. A cidade está localizada entre marcos geográficos importantes da região, como o Morro da Espia, o Canal do Valo Grande e o braço de mar chamado Mar Pequeno, que integram a área tombada e foram fundamentais na formação do núcleo urbano. Além do centro, também estão protegidos o antigo sistema portuário fluvial e marítimo, e diversas áreas da zona rural de Registro (distrito de Iguape), marcos da imigração japonesa no Brasil.

Iguape sofreu poucas alterações até ao início do século XX e possui o maior casario colonial preservado do Estado de São Paulo, com diversas casas, casarões e igrejas em vielas estreitas de paralelepípedos. Ricas em detalhes e em técnicas empregadas, como a taipa francesa e a de pilão, as edificações datam dos ciclos do ouro e do arroz, entre os séculos XVI e XIX, período em que foi construída a Casa de Fundição e quando a cidade viveu o auge de seu desenvolvimento econômico.

O litoral do Vale do Ribeira foi uma região estratégica para as expedições ao sertão, desde a chegada dos europeus ao continente sul-americano. As vilas de Cananéia e Iguape, construídas em pedra e cal, foram erguidas por ordem da Coroa Portuguesa para abrigar a administração pública, ocupar e proteger o território. Situada ao sul das terras delimitadas pelo Tratado de Tordesilhas, Iguape tornou-se ponto de passagem de portugueses, castelhanos e franceses durante o século XVI. Um reduto de aventureiros e exploradores em busca em busca de riquezas.

O primeiro núcleo iguapense estabeleceu-se por volta de 1537, ao pé do Outeiro do Bacharel, no estuário do rio que deu origem ao seu nome (Iguape - ygya-pe, na língua tupi).  A fundação do povoado é atribuída ao aventureiro espanhol Ruy Garcia Moschera, em 1538, um ano após a construção de sua primeira igreja, em homenagem à Nossa Sra. das Neves. Moschera se encontrava na região, em companhia de outros castelhanos refugiados.

Em meados do século XVII, para ali afluíram inúmeros aventureiros, e o local se tornou um ponto de convergência desses e das riquezas por eles exploradas. O núcleo se desenvolveu em função da descoberta do ouro de lavagem nos afluentes do ribeirão do Iguapé. O povoado foi elevado à vila com a denominação de Nossa Senhora das Neves de Iguapé, em 1635. No início do século XVIII a maior parte das atividades mineradoras declinou e, em fins desse século, o esmorecimento da exploração do ouro levou, inclusive, ao fechamento da oficina de fundição existente.

Com o aumento da produção de arroz, Iguape ressurgiu, no século XIX, e voltou a ter participação direta na economia regional. Em 1849, a vila passou à categoria de cidade com a denominação de Bom Jesus da Ribeira e, em 1850, foi restabelecida a denominação de Iguape. O Porto do Mar Pequeno passou a ser o único meio de escoamento do produto vindo das regiões ribeirinhas para ser explorado. A riqueza obtida com a exportação do arroz possibilitou a construção de residências de grande porte, engenhos, jornais, companhias de teatros, uma nova Igreja Matriz, e outros melhoramentos.

Imigração japonesa - O Japão iniciou, durante a segunda metade do século XIX, sua modernização na chamada Era Meiji e as transformações realizadas levaram a inúmeras revoltas camponesas e enormes deslocamentos populacionais do campo para os centros urbanos. A vinda para o Brasil era incentivada pelo governo japonês, como alternativa à superpopulação e com a perspectiva de ocupação expansionista, devido à limitação espacial de seu território.  Ao mesmo tempo, o Brasil tentava substituir a mão-de-obra escrava por assalariados e vivia-se a época da expansão cafeeira.

O primeiro passo para viabilizar a constituição das colônias japonesas no Estado de São Paulo foi dado em 1912, com um acordo firmado entre o governo estadual e o Japão. Houve o compromisso da doação de vasta extensão de terras na região, além da concessão de recursos financeiros e isenção de impostos. Em contrapartida, seriam introduzidas duas mil famílias no Vale do Ribeira, ao longo de um período de quatro anos.

A grande maioria dos imigrantes japoneses eram lavradores que cultivavam produtos agrícolas de seu cotidiano, como o arroz. Eles foram responsáveis pela diversificação da produção agrícola brasileira, principalmente com as frutas e hortaliças (morango, poncã, caqui, abóbora japonesa, pepino, acelga, entre outras). O plantio do chá preto, no país, teve início em 1935, quando Torazo Okamoto, imigrante estabelecido na colônia de Registro, introduziu em suas terras a variedade assam, de origem indiana - mais produtiva e de maior qualidade.

Okamoto tornou-se o principal produtor e exportador de chá preto do Brasil. Em Registro, as colinas suaves do município, abrigadas das cheias, ofereceram boas condições para o plantio chá, que marcou a paisagem da região. Os japoneses exploraram outro produto típico nas várzeas: o junco, usado para produzir as famosas esteiras e chinelos de fibra natural. O domínio da carpintaria era habilidade de muitos japoneses, técnica secular de sua cultura.

Empregaram seus conhecimentos e instrumental específico na construção das edificações, com ambientes internos simples (poucas divisórias e poucos móveis). Destacam-se a estrutura de madeira aparente, bem como o uso de tatames e camas de futtons. O telhado das igrejas tem o desenho curvo, como nos velhos templos orientais. A paisagem é dominada por plantações de chá.

Monumentos e bens da imigração japonesa tombada: Sobrado do Toledo (edificação em estilo neoclássico), Casas da Rua das Neves ou do Funil (mais antigo conjunto arquitetônico da cidade), Igreja do Bom Jesus de Iguape (datada de 1858, atrai milhares de romeiros de todo o Brasil para a festa do padroeiro), fabricas de chá e prédios administrativos (Kaigai Kabushiki Kaisha, Shimabukuro, Amaya, Kawagiri, Shimizu), edificações residen-ciais (Fukasawa, Gozo Okiyama, Susu Okiyama, Hokugawa, Amaya e Katsura); engenho, sede social e residência Colônia Katsura; e Igreja Episcopal Anglicana e Igreja de São Francisco Xavier. Destaca-se o arruamento defensivo - com vias em funil, fechadas ao exterior - e as praças da Basílica e de São Benedito.

Obras do PAC Cidades Históricas

Restauração:
Antiga Casa de Fundição - Museu Histórico Municipal
Sobrado dos Toledos (atendimento ao turista)
Sobrado do Paço Municipal

Fontes: Arquivo Noronha Santos/Iphan e IBGE

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