Laguna (SC)

O centro histórico de Laguna tombado pelo Iphan, em 1985, é formado a partir do porto original e abriga cerca de 600 imóveis. No município, existem 43 sítios arqueológicos.  A colonização açoriana, no Estado de Santa Catarina, resultou em um belo conjunto arquitetônico cercado por lindas praias, e um dos maiores sítios arqueológicos de sambaquis da América, alguns com 35 metros de altura. A cidade - terra natal de Anita Garibaldi - testemunhou importantes momentos da Revolução Farroupilha (1835 - 1845).

A cidade possui edificações carregadas de decorações, vidros desenhados e ferros importados: o telhado arrematado com platibandas ornamentais, balaustradas, e calha para escoar a água das chuvas; o peitoril e a bandeira desaparecem sendo substituídos por massa com motivos decorativos; paredes construídas com tijolos e cal, dando maior precisão e diminuindo a espessura. Estes novos elementos marcaram fortemente o patrimônio arquitetônico de Laguna.

O local onde foi implantada a povoação, no século XVII, é um anfiteatro natural protegido pelos morros da Glória e do Mato Grosso, eixo da praia onde se fixaram colonos vindos da Capitania de São Vicente. Povoado fundado pelo bandeirante Domingos de Brito Peixoto Vicente, em 1678, com a construção de uma capela de taipa dedicada a Santo Antônio dos Anjos. Laguna nasceu em terras de disputa colonial, atendendo a uma solicitação do rei de Portugal que desejava expandir a fronteira do Tratado de Tordesilhas, firmado com a Espanha.

Com a chegada dos bandeirantes, a vila de origem indígena foi organizada, povoada e se transformou em ponto de partida de expedições. Por ser devoto ao Santo Antônio, o fundador batizou o lugar como Santo Antônio dos Anjos de Laguna e construiu uma capelinha, de pau a pique, onde está a atual Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos. Poucos moradores fixaram residências na localidade nesse período.

No início da colonização do Brasil, tal território compunha a parte mais meridional do Brasil, na Capitania de Santana, onde incide a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas (1494), separando as terras de Portugal (a leste) e Espanha (a oeste). Desse conflito entre metrópoles, uma extensa colônia passava a se formar. Por esse motivo, Laguna tornou-se importante ponto geográfico para Portugal. A linha imaginária passava por Laguna e, atualmente, o monumento do Tratado de Tordesilhas está localizado ao lado da rodoviária, no centro histórico.

Entre os séculos XVI e XVIII, cerca de 100 mil portugueses se deslocaram para o Brasil, muitos vindos dos Açores. Nessa mesma época, Portugal temia invasões espanholas no Sul do Brasil, principalmente no litoral de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, áreas estratégicas para se chegar ao rio da Prata. O acesso ao litoral permitia o abastecimento de água e alimentos pelas embarcações. Havia, também, a disputa para alargar as fronteiras da colônia Brasil.
 
Em 1714, Santo Antônio dos Anjos de Laguna tornou-se vila.  Terra natal de Anita Garibaldi, Laguna é a terceira povoação portuguesa no litoral de Santa Catarina. De seu extenso território original desmembraram-se as capitais Florianópolis (SC) e e Porto Alegre (RS).  Por volta de 1720, começaram as primeiras expedições para o sul e portugueses e paulistas se instalaram na região. Entre 1740 e 1756, Laguna adquiriu importância e prosperou. Os primeiros colonizadores, conhecidos como portugueses dos açores, ocuparam o local onde pescavam e cultivavam o solo, incentivados pela Coroa Portuguesa.

Houve uma grande modificação nos usos e costumes da vila, maior desenvolvimento da agricultura e dos moinhos de farinha de mandioca. Os açorianos adaptaram-se a nova vida e modificaram alguns de seus hábitos, inclusive os alimentares. Substituíram a farinha de trigo, base da alimentação de seu país, pela farinha de mandioca e a carne pelo peixe que era salgado para consumo ou exportação. Até o início do século XIX, a economia continuou sendo de subsistência.

Revolução Farroupilha (Guerra dos Farrapos), deflagrada no Rio Grande do Sul, no período de 1835 a 1845, teve como uma das principais causas as dificuldades econômicas. A economia do Rio Grande do Sul era focada na criação de gado e a sobrevivência deste povo baseava-se na cultura do charque, mais conhecido como carne-seca, em outras regiões do Brasil. Os farroupilhas fundaram a República Rio Grandense que precisava prosperar e, para isso, necessitava chegar ao mar. O exército do Governo Imperial do Brasil controlava os portos e rios de Santa Catarina.

Anos depois, o porto de Laguna seria transformado em palco da luta separatista travada pelo Rio grande do Sul contra o Governo imperial. Em 1839, o revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi, David Canabarro, Teixeira Nunes e soldados farroupilhas conquistam a vila de Laguna, declarando a República Catarinense, sob o comando de Jerônimo de Castilho. Canabarro, um dos chefes da revolução vitoriosa, oficia à Câmara, lembrando a necessidade de ser proclamada a independência de Santa Catarina.
 
A Câmara de Vereadores de Laguna, presidida por Vicente Francisco de Oliveira, proclamou a independência e criou a República Catarinense ou República Juliana. Ainda em 1839, com apoio Garibaldi, os farroupilhas montaram uma manobra para surpreender os imperialistas navegando pela lagoa Santo Antônio, lagoa Garopaba do Sul, barra do Camacho e seguindo pelo rio Tubarão. Anita Garibaldi participou da batalha naval entre farroupilhas e imperialistas.  

Com a derrota dos farroupilhas, todos esses atos foram tornados sem efeito. Nas décadas seguintes, o Governo Imperial realizou uma ocupação mais efetiva do território, com políticas de povoamento para o Sul. Em 1847, Laguna foi elevada à categoria de cidade, por decreto imperial e, nessa mesma época, começaram a chegar os imigrantes europeus (italianos e alemães). Os imigrantes desembarcavam no porto de Laguna e seguiam em ouras embarcações para o interior do país. No começo seguiam pelas lagoas e rios e, mais tarde, pela Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina (construída entre 1880 e 18840.

Com o desenvolvimento das colônias (Azambuja, Urussanga, Grão-Pará, Princesa Isabel e Braço do Norte) os produtos por elas produzidos eram trazidos de trem e escoados pelo porto de Laguna. Fato que, com a exploração do carvão, elevou Laguna à 4ª posição no Estado quanto a movimentação portuária, na segunda metade do século XIX. O comércio e as indústrias da região, com as companhias de navegação, criaram um fluxo positivo de crescimento econômico para o município.

Os comerciantes desfrutaram de uma boa situação econômica que possibilitou melhores condições de vida para população local. Esse período - a época áurea de Laguna – resultou em algumas construções do Centro Histórico que testemunham a riqueza da cidade. A implantação das novas edificações nos lotes urbanos aos poucos se modificou. As casas térreas e os sobrados passaram a conviver com novos prédios e residências de estilo eclético.

A princípio, eram os porões altos ainda no alinhamento dos lotes. Mais tarde, surgiram os recuos laterais, possibilitando os acessos por escadas junto aos jardins, cada vez maiores e mais imponentes. O espaço urbano alterou-se, significativamente, e passou a incorporar vazios entre as edificações, que antes formavam uma superfície contínua com as fachadas das casas. As construções ecléticas foram locadas, principalmente, na parte mais central do centro, sendo a maioria construída para uso residencial.

Na virada do século XIX para o XX, com o enriquecimento da população, Laguna testemunhou o desenvolvimento urbano e intelectual mais significativo desde a sua fundação. Surgiram, nessa época, o Teatro Sete de Setembro (1858), a tipografia do primeiro jornal (1878), o hospital (1879), o primeiro hotel na Rua da Praia, o Cine Central, a iluminação pública a petróleo (1891) e o antigo Mercado Público (1893), o Jardim Calheiros da Graça com chafariz, palmeiras e iluminação (1914 e 1915), Biblioteca Pública e o prédio do Banco Nacional do Comércio (1925).

No final da década de 1950, Laguna decaiu economicamente devido à redução da atividade portuária, enfraquecimento do polo comercial, e fracasso na tentativa de industrialização. A partir da década de 1960, a construção civil sofreu quase que uma total paralisação. A construção da BR-101 e abertura ao tráfego da ponte rodoviária da Cabeçuda, deslocou o polo econômico da região sul de Laguna, para outros municípios, como por exemplo, Tubarão. Permaneceram no município a produção pesqueira e pequenas indústrias de confecções e processamento da fécula de mandioca e arroz.

Casa de Câmara e Cadeia (Casa à Praça da Bandeira, Paço Municipal) - Atual Museu Anita Garibaldi. O prédio data de 1735, primeira edificação construída para a fundação da vila de Laguna. No século XVIII, foi ocupada pela Casa da Câmara e Cadeia. Nessa edificação foi proclamada a República Catarinense, em 1839, durante a Guerra dos Farrapos. Com a denominação de Paço do Conselho serviu de cadeia pública (parte inferior) e Câmara de Vereadores (parte superior). Possui valiosas peças - inclusive arqueológicas - que integram passagens da história de Laguna. Na praça, diante do Museu, há uma estátua inaugurada, em 1964, em homenagem a heroína.

Casa da Rua do Rincão - Edificação de arquitetura luso-brasileira, localizada na antiga Rua do Rincão, foi a casa onde Anita viveu com seus pais, no início da adolescência, e vestiu-se para se casar om Manoel dos cachorros, seu primeiro marido. Contém uma urna com terra da sepultura de Anita Garibaldi, do cemitério de Ravena, Itália.

Casa Pinto D' Ulisséa - Datada de 1866, é uma réplica de luxuosa quinta portuguesa, totalmente revestida com azulejos importados de Portugal.

Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos - Substituiu a antiga capela de pau-a-pique construída pelo fundador Domingos de Brito Peixoto, em 1696. Brito Peixoto trouxe consigo uma pequena imagem de Santo Antônio – “o santo casamenteiro”. Outra escultura foi esculpida na Bahia, feita em cedro, no século XVIII. Muitas obras de arte adornam os altares, como a famosa obra do pintor catarinense Victor Meirelles, Imaculada Conceição - La Madonna (1856). Na Igreja Matriz, Anita se casou com “Manoel dos cachorros” e seus restos mortais estão enterrados na capela-mor.

Fonte da Carioca - Construída em 1863, com arquitetura portuguesa nas cores azul e branca. Até esse ano, a água jorrava de uma pequena bica. A Fonte da Carioca está ao lado da Casa Pinto Ulysséa. A fonte abastece a população, com água pura e cristalina, desde os tempos do Império.  Seus tanques, revestidos de mármore carrara deixam a água gelada. Conta-se que a água dessa fonte, que nasce da terra, motivou a localização da cidade por seu fundador. Na época da colonização, Laguna tinha três fontes que abasteciam a cidade: a da Figueirinha (onde Anita e Guiseppe Garibaldi teriam se conhecido), a de Campo de Fora e a da Carioca (a única preservada).
 
Marco de Tordesilhas - Em 1494, foi assinado entre Portugal e Espanha, o Tratado de Tordesilhas, que fixava uma linha divisória a 370 léguas a oeste de Cabo Verde, passando ao Norte, no Pará, e ao Sul, em Laguna.

Obras do PAC Cidades Históricas

Requalificação urbanística:
Centro Histórico - 1a. Etapa (Rua Raulino Horn e Largo do Rosário)

Restauração:
Casa de Anita Garibaldi
Sobrado da Sociedade Musical Carlos Gomes
Casa Candemil - Arquivo Público Municipal
Antiga subestação de energia
Casarão da Sociedade Recreativa Clube Congresso
Antiga Estação Ferroviária e agenciamento do entorno
Casarão do Clube Blondin

Etapa final da restauração:
Casarão do Clube União Operária e anexo

Fontes: Arquivo Noronha Santos/Iphan e IBGE

Compartilhar
Facebook Twitter Email Linkedin