São Miguel das Missões (RS)
O sítio arqueológico de São Miguel das Missões - declarado Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, pela Unesco, em 1983 - é um dos conjuntos históricos mais importantes situados em terras brasileiras. Em 1937, o arquiteto Lucio Costa foi enviado ao Rio Grande do Sul para analisar os remanescentes dos Sete Povos das Missões e a visita resultou no tombamento, pelo Iphan, em 1938, dos remanescentes das Missões.
Entre 1938 e 1940, o arquiteto Lucas Mayerhofer dirigiu as obras de estabilização da igreja e a construção do prédio do Museu, cujo projeto original foi elaborado por Lucio Costa, que utilizou como referência a arquitetura espanhola e as casas dos índios missioneiros. O Museu abriga a estatuária da Igreja de São Miguel, importante coleção de imagens sacras e de fragmentos missioneiros. As ruínas da Igreja são os remanescentes do projeto atribuído ao arquiteto jesuíta italiano Gian Battista Primoli, inspirado na Igreja de Gesù (Roma), principal templo jesuítico romano.
As Missões Jesuíticas Guaranis - um sistema de bens culturais transfronteiriços em território do Brasil e da Argentina - compõem-se de um conjunto de cinco remanescentes dos povoados implantados em área originalmente ocupada por indígenas, durante o processo de evangelização promovido pela Companhia de Jesus nas colônias da Coroa Espanhola na América, durante os séculos XVII e XVIII. Representam importante testemunho da ocupação do território e das relações culturais que se estabeleceram entre os povos nativos, na maioria da etnia Guarani, e missionários jesuítas europeus.
Houve um período de expressivas manifestações, materializadas em sua maior parte nas chamadas missões jesuíticas, cujos vestígios comprovam o elevado apuro do trabalho desenvolvido pelos índios e religiosos. A pintura, a escultura, a arquitetura e a cerâmica floresceram com rara qualidade e beleza, transplantando para a América do Sul algumas aspirações utópicas do Iluminismo (movimento intelectual e artístico europeu, do século XVIII, que defendia o uso da razão (luz) contra o antigo regime (trevas) e pregava maior liberdade econômica e política).
Embora sem os rigores da escravidão, a cristianização dos Guarani e de outros povos significou um processo de ruptura cultural e emprego da mão de obra indígena para outros propósitos que não sua sobrevivência, conforme seus valores culturais milenares. As disputas territoriais entre Portugal e Espanha, objeto dos tratados de Madri (em 1750) e Santo Ildefonso (em 1768), as guerras guaraníticas e a expulsão dos jesuítas dos dois países, respectivamente em 1759 e 1767, decretaram a decadência e o fim das missões jesuíticas.
As diferentes Missões Jesuítico-Guarani contêm, com graus variados, fragmentos de muros que faziam parte de seus núcleos monumentais (igreja, residência, oficinas, hortas), no entanto, eles perderam suas originais funções religiosas, residencial, educacional e cultural. Estes locais são atualmente considerados monumentos históricos, com uma finalidade cultural e turística expressiva, e são altamente significativos para o desenvolvimento local das comunidades envolvidas. Como exceção, esses sítios são usados para eventos religiosos ou recreativos.
No território brasileiro, os vestígios materiais existentes do sítio - como o corpo principal da igreja, campanário e sacristia, partes das construções conventuais, fundações e bases das habitações indígenas, praça, horto, canalizações pluviais, objetos sacros - permitem expressar esse singular modelo de ocupação territorial permeado pela interação e troca cultural entre os povos nativos e os missionários europeus.
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, o território do atual Rio Grande do Sul foi palco de acirrada disputa entre as Coroas de Espanha e de Portugal. Os espanhóis, que de acordo com o Tratado de Tordesilhas eram proprietários da região, tentaram garantir sua posse por meio da conversão das populações indígenas ao catolicismo - projeto que asseguraria, também, a difusão da fé cristã -, enquanto os portugueses faziam incursões temporárias, em busca de minas de ouro e de prata.
Por determinação de Felipe II, rei de Espanha, o trabalho de catequese se iniciou em 1610, em terras paraguaias, alcançando Rio Grande do Sul a partir de 1626. Nessa extensa região, também composta pelos atuais territórios da Argentina e Uruguai, os padres jesuítas fundaram, com os índios Guarani, 30 aldeamentos conhecidos como "reduções", sete dos quais posteriormente foram chamados Sete Povos das Missões e localizam-se, atualmente, em solo brasileiro. As reduções eram complexos que reuniam edificações (igreja, moradias, colégio e oficinas), construídas com técnicas distintas, além de estâncias e ervais.
A redução de São Miguel Arcanjo foi fundada em 1632 pelos padres Pablo Benevidez e Cristóvão de Mendonza, na área central do atual Estado do Rio Grande do Sul. Em 1640, devido aos ataques dos bandeirantes paulistas, a povoação foi abandonada e sua população transferiu-se para o território que hoje pertence à Argentina. Em 1687, índios e jesuítas retornaram, formando um novo povoado.
Em 1750, o Tratado de Madri estabeleceu novos limites entre as terras de Portugal e Espanha, determinando a entrega das reduções localizadas à margem esquerda do rio Uruguai aos portugueses, em troca da Colônia do Sacramento, o que provocou a Guerra Guaranítica, a expulsão dos jesuítas e a decadência das Missões, dizimadas por um exército constituído pelas duas Coroas.
Nas missões havia a prática da agricultura, da pecuária (com gado introduzido pelos jesuítas) e do artesanato, em um sistema de trabalho cooperativo que combinava a introdução do conhecimento jesuítico e a utilização das técnicas indígenas tradicionais, propiciando o desenvolvimento da arquitetura e das artes. Algumas reduções chegaram a reunir 7.000 indígenas, preparados, também, para a defesa contra a escravização resultante dos frequentes ataques dos bandeirantes paulistas.
O patrimônio tombado é denominado Povo e Ruínas da Igreja de São Miguel, inclui a área da antiga praça fronteira, e a edificação do Museu das Missões Povo de São Miguel com remanescentes e ruínas da Igreja de São Miguel.
Igreja de São Miguel - Em estilo barroco, foi construída pelo arquiteto italiano Gian Batista Primoli, a partir de 1735. Estruturada em pedra arenito, era pintada de branco e tinha seus espaços interiores ornamentados por pinturas e esculturas de madeira policromada. A Igreja de São Miguel possuía uma rica e colorida ornamentação interna, integrada por entalhes e pinturas, e esculturas com motivos sacros. Ao longo dos anos, a igreja foi alvo de saques e da ação de aventureiros que, em busca do tesouro dos jesuítas, retiraram muitos materiais para uso em outras construções. Em 1886, os telhados ruíram e o pórtico desabou. O longo período de abandono levou ao crescimento de grandes árvores no interior da nave.
Obras do PAC Cidades Históricas
Implantação:
Sistema de proteção contra descargas atmosféricas nas Ruínas de São Miguel
Complexo Cultural do Sítio de São Miguel Arcanjo (Sede do Iphan, anexo do Museu das Missões, Centro de Atendimento ao Turista e Centro de Interpretação das Missões e Centro Cultural)
Requalificação urbanística:
Entorno do Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo
Fontes: Arquivo Noronha Santos/Iphan e IBGE