História - Vila Ferroviária de Paranapiacaba (Santo André - SP)

Com forte influência inglesa em sua estrutura urbana, a Vila apresenta afastamentos em frente às casas, algo pouco comum à época, mas que possibilitava a construção de jardins.

Paranapiacaba ("lugar de onde se vê o mar", em tupi-guarani) está localizada em local onde, durante os dias claros, os indígenas que passavam por ali avistavam o mar, depois de subir a Serra do Mar rumo ao planalto. No século XIX, naquele caminho íngreme utilizado pelos índios, desde os tempos pré-coloniais, seria construída uma estrada de ferro que mudaria a paisagem do interior paulista.

A expansão da cultura do café no Vale do Paraíba (estados do Rio de Janeiro e São Paulo) determinou a construção da Ferrovia Santos-Jundiaí. A próxima região ocupada pela cultura cafeeira seria o oeste paulista, no interior do Estado e tornou-se urgente encontrar um meio de escoar o café com maior facilidade para o Porto de Santos. Os primeiros estudos para a implantação da ferrovia começaram em 1835 e, a partir de 1850, o projeto começou a sair do papel, por iniciativa do Barão de Mauá. 

A Vila de Paranapiacaba situa-se onde se instalou o Centro de Controle Operacional e Residência para os funcionários da companhia inglesa de trens São Paulo Railway, que realizava o transporte de passageiros e da produção de café das fazendas paulistas para o Porto de Santos. Assim, a ocupação dessa região está associada à construção da Ferrovia Santos-Jundiaí, a partir de 1860, com as obras comandadas pelo engenheiro inglês Daniel M. Fox. 

Após a inauguração da ferrovia, em 1867, o acampamento passou a ser utilizado pelos operadores e mantenedores da maquinaria e do tráfego ferroviário. Assim, construiu-se a Estação Alto da Serra, primeiro nome dado ao lugarejo. Devido à sua localização, último ponto antes da descida da serra, a vila começou a ganhar importância. Na mesma época, em torno da Estação São Bernardo, surgia futura cidade de Santo André, à qual pertence à Vila de Paranapiacaba. 

A ocupação no interior do Estado se consolidou graças à estrada de ferro. O comércio e a produção agrícola aumentaram significativamente e a ferrovia começou a ser duplicada. Paralelamente às obras de duplicação, a vila também era modificada. No alto de uma colina, os ingleses construíram a casa do engenheiro-chefe, chamada de Castelinho, de onde toda a movimentação no pátio ferroviário poderia ser observada. Nessa época, também foi erguida a Vila Martim Smith com casas em estilo inglês, de madeira e telhados em ardósia, para servir de moradia aos funcionários da empresa. 

Em 1900, o novo sistema de planos inclinados é inaugurado e recebe o nome de Serra Nova. Do outro lado da estrada de ferro, a Parte Alta de Paranapiacaba, que não pertencia à companhia, seguia padrões arquitetônicos diversos daqueles da vila inglesa. Até meados da década de 1940, os moradores do local viviam como uma grande família na vila bem cuidada, com ruas arborizadas e casas pintadas. O Clube União Lira Serrano - centro de uma intensa atividade sociocultural - promovia bailes, jogos de salão, competições esportivas, encenações teatrais, exibições de filmes e concertos da Banda Lira. 

O período de concessão da empresa São Paulo Railway Co. terminu em 1946, e todo seu patrimônio é incorporado ao da União, fato apontado pelos antigos moradores como o início da decadência da vila. Com a desativação parcial do sistema funicular, na década de 1970, parte dos funcionários é dispensada ou aposentada e outros são contratados, para cuidar do novo sistema de transposição da serra, a cremalheira-aderência.

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