Barragem do Cedro nos Monólitos de Quixadá (CE)

A região de Quixadá, localizada na Região Nordeste, vem sendo ocupada pelo homem desde períodos pré-históricos, como atestam as pinturas rupestres e outros vestígios arqueológicos existentes no local. A colonização europeia iniciou-se a partir do final do século XVII, partindo das áreas de produção açucareira do litoral e seguindo os leitos dos principais rios, adentrando o sertão em busca de locais para criação de gado bovino. A organização do território e da cultura se fez em torno da propriedade rural, da estrutura familiar patriarcal, das fazendas e das áreas de pastoreio.

Por volta de meados do século XIX, as condições que haviam permitido a sobrevivência do colonizador no semiárido brasileiro se modificaram: com o crescimento demográfico, as novas regulações sobre a terra e o avanço da cotonicultura (restringindo as antigas áreas de refúgio ou abrigo), os períodos de estiagem passaram a impactar amplamente a população da região. A seca tornou-se um problema de dimensões nacionais, e o combate a seus efeitos passou a ser objeto de políticas do Império e, posteriormente, da República.

A Barragem do Cedro, com sua parede em arco de alvenaria de pedra, foi a primeira grande obra hidráulica moderna do continente sul-americano. Ela incorporou o avançado progresso científico, tecnológico e do cálculo aplicado à engenharia civil à época. Projetada pelo engenheiro britânico J. J. Rèvy e construída por expoentes da nascente engenharia brasileira de formação politécnica, a barragem afirma-se como um exemplar excepcional do período entre a segunda metade do século XIX e início do XX.

É uma das pioneiras obras do seu tipo e do seu porte no mundo. Para além de sua funcionalidade de represamento d’água para irrigação, sua implantação, seu desenho e seu esmero de execução resultaram numa paisagem de beleza ímpar, combinando arrojo e elegância, monumentalidade e singeleza, em uma simbiose entre o engenho humano e a obra da natureza que anima o espírito. A paisagem formada pelos monólitos e pela Barragem do Cedro em Quixadá representa a síntese da Caatinga - bioma de clima semiárido endêmico do Brasil - e a luta do colonizador para ocupar e transformar, a partir do século XVII, esse local marcado por intensas estiagens.

O açude (projetado e construído entre 1882 e 1906) iniciou uma política sistemática e bastante exitosa de represamento de águas superficiais e de interligação de bacias ao longo de mais de um século por toda a região, alterando a sua percepção quanto às possibilidades reais de ocupação e de sobrevivência em meio tão hostil à vida humana, devido à sistemática escassez de água. Isso possibilitou que a Caatinga seja, atualmente, a zona semiárida mais densamente povoada do planeta, com relativa segurança hídrica.

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