Conselho Consultivo reconhece novos bens como Patrimônio Cultural do Brasil
O Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ) foi o local da 89ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Na pauta estavam os pedidos de proteção de seis novos bens, representantes da diversidade cultural do Brasil. Com pareceres do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no primeiro dia os conselheiros avaliaram a proposta de tombamento do Acervo Arthur Bispo do Rosário e do registro da Literatura de Cordel. Na quinta-feira, dia 20, os trabalhos foram referentes ao tombamento dos terreiros de candomblé Ilê Obá Ogunté Sítio Pai Adão, do Recife (PE), e Tumba Junsara, de Salvador (BA), além dos registros como Patrimônio Cultural do Brasil da Procissão do Senhor dos Passos, em Florianópolis (SC), e do Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira, no Estado de São Paulo.
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural é o órgão colegiado de decisão máxima do Iphan para as questões relativas ao patrimônio material e imaterial. São 22 conselheiros que representam o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.
Um sergipano que ganhou o mundo seguindo suas vozes
Com uma vida repleta de mistérios, o sergipano Arthur Bispo do Rosário ganhou destaque no universo da arte contemporânea sem querer. Seguindo as vozes que o ordenavam a reconstruir o mundo, deu início a suas obras, produzidas sem o propósito de serem consideradas culturais, geraram debates sobre os limites entre a arte e a loucura. A coleção principal é formada por 805 peças, entre elas estandartes, indumentárias, vitrines, fichários, móveis, objetos (recobertos com fio azul ou não) e vagões de espera. O acervo é composto por peças elaboradas em diversos materiais, como vidro, madeira, plástico, tecidos, linhas, botões, gesso, e diversos itens recolhidos do lixo e da sucata.
O imaginário coletivo que se expressa em canto e poesia
Apesar de ter começado no Norte e no Nordeste do país, o cordel hoje é disseminado por todo o Brasil, principalmente por causa do processo de migração de populações. Em todo o país é possível encontrar esta expressão cultural, que revela o imaginário coletivo, a memória social e o ponto de vista dos poetas acerca dos acontecimentos vividos ou imaginados. A Literatura de Cordel no Brasil é o resultado de uma série de práticas culturais em que os cantos e os contos constituem as matrizes para uma série de formas de expressão. Na formação da cultura brasileira, da qual a literatura de cordel faz parte, tanto indígenas quanto africanos e portugueses adicionaram práticas de transmissão oral de suas cosmologias, de seus contos, de suas canções.
Referência para a compreensão das religiões de matrizes africanas
Um dos primeiros terreiros de Xangô, em Pernambuco foi o Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão. A casa possui uma relevância histórica para compreensão das religiões de matrizes africanas no Brasil. O nome é homenagem a um de seus sacerdotes: Pai Adão, um dos maiores propagadores do nagô pelo Recife, que ajudou a fundar outros terreiros e tornou-se referência na cidade. Em função disso, Pai Adão gozava de grande estima e respeito da parte dos intelectuais que pesquisavam sobre os Xangôs de Pernambuco.
Um caminho para manter suas referências culturais
Legado, resistência e religiosidade compõem a essência do Terreiro Tumba Junsara, em Salvador (BA), que está entre os mais antigos de tradição Angola no Brasil. Fundado em 1919 pelos irmãos Manoel Rodrigues e Ciriaco, o Terreiro de candomblé faz da milonga (mistura) um caminho para manter suas referências culturais. Uma característica da Nação Angola, por exemplo, é a presença de um culto específico em reverência aos ancestrais indígenas.
Vivências emocionadas marcam procissão em Florianópolis (SC)
A maior e mais antiga festividade religiosa reúne cerca de 60 mil fiéis. A Procissão do Senhor dos Passos, da Igreja Católica, acontece em Florianópolis (SC) há 250 anos. Com duração de uma semana, sempre 15 dias antes da Páscoa, a celebração é marcada por momentos simbólicos, entre eles a Procissão do Encontro, o ápice ritual que encena a Paixão de Cristo e tem como momento máximo o sermão que marca o encontro entre o Cristo e sua mãe, na quarta estação da via crucis. A história da Procissão tem início com a chegada da imagem à cidade, então vila de Nossa Senhora do Desterro, em 1764.
A agricultura como estruturante do modo de vida
Desde o período colonial, o rio Ribeira do Iguape, no estado de São Paulo, viu o cultivo de mandioca, milho, feijão e arroz tornar-se o eixo estruturante do modo de vida de comunidades quilombolas que se instalaram nas suas margens. Esse modo de fazer roça e os bens culturais a ele associados integram o Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira. Entre o apogeu e a decadência da exploração do ouro, foi a agricultura de subsistência que permitiu a permanência dos grupos afrodescendentes nos vales e montanhas da região. Muito além de uma atividade econômica, o plantar e colher estabeleceu as trocas com a natureza, os laços de parentesco e compadrio, a fabricação de materiais para o uso diário, a expressão do divino e as manifestações religiosas, de música e dança, transmitidos entre as sucessivas gerações que ali moraram.
Serviço:
Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Data: 19 e 20 de setembro de 2018, a partir das 9h
Local: Forte de Copacabana
Praça Coronel Eugênio Franco, 1 - Posto 6
Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
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