Ouro Preto
A incursão à região que deu origem à cidade de Ouro Preto remonta ao fim do século XVII. No entanto, sua ocupação começou na primeira década do século XVIII, consolidando-se na primeira década do século seguinte. Seus primeiros habitantes ocuparam núcleos esparsos, em morros ou às margens de córregos, locais onde era maior a presença do ouro.
Em 1711, tornou-se oficialmente uma vila. Resultado das interligações dos arraiais primitivos, foi desenvolvendo o seu tecido urbano, entrecortado por becos, travessas e ladeiras, com as ruas principais acompanhando as curvas de nível. Coincide com essa data uma intervenção mais efetiva da Coroa Portuguesa nessa vila – Vila Rica – que instalou no Morro de Santa Quitéria uma praça com o objetivo de abrigar a Casa de Câmara e Cadeia e o Palácio dos governadores.
Atraída pelo ouro, a população de Vila Rica cresceu rapidamente e as primeiras capelas tornaram-se insuficientes para atender às necessidades religiosas de seus habitantes. Por volta de 1730, surgem os edifícios definitivos das matrizes de Nossa Senhora do Pilar e de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, marcos de origem de Ouro Preto.
O auge da produção aurífera durou cerca de 25 anos – de 1725 até 1750. A riqueza advinda da atividade mineradora refletiu-se no modo de vida dos moradores da Vila Rica. As moradias, por exemplo, ganharam novos acréscimos: as varandas posteriores ampliaram-se, surgiram os forros de madeira, e as portas e janelas ganharam almofadas. No entanto, a taipa e o pau a pique ainda não haviam cedido lugar ao quartzito do Pico do Itacolomi, só aproveitado mais tarde, na construção do Palácio dos Governadores.
Na segunda metade do século XVIII Vila Rica começou a adquirir seu aspecto atual. O surgimento das duas principais Ordens Terceiras, a do Carmo e a de São Francisco, entre 1740 e 1760, refletiu na construção das igrejas dessas Ordens e trouxe a introdução de novos valores estéticos a esses monumentos – que se concretizaram em algumas obras-primas do barroco e do rococó, no segundo quartel do século XVIII. Neles trabalharam os mestres portugueses e uma primeira geração de artistas mineiros, que mostravam uma nova e mais livre interpretação dos elementos formais. Entre eles, destaca-se Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, o mais importante artista da época.
A vila já estava urbanamente definida e por fim ganhou grandes obras públicas, como os inúmeros e bem ornamentados chafarizes e as sólidas pontes de cantaria. Nesse período, as primitivas construções particulares de canga ou pau a pique cederam lugar a prédios com reforço de alvenaria, com mais requintes de acabamento, surgindo empreendimentos urbanos de maior vulto. Sobressaem, na cidade, as pontes e seus inúmeros chafarizes barrocos que, singelos ou trabalhados, como os chafarizes do Passo de Antônio Dias, dos Contos, de Marília e da Glória.
Até fins do século, a vila viu melhorar seu arruamento, com praças e ruas pavimentadas em pedra. Estavam já construídas, ou em fase de conclusão, dentre outras, as Matrizes de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias e de Nossa Senhora do Pilar, e a Igreja Nossa Senhora do Carmo, datada da segunda metade do Século XVIII, com risco modificado pelo Aleijadinho, que tornou seu frontispício curvo e as torres circulares. A Igreja de São Francisco de Assis, datada de 1766, é a obra-prima do Aleijadinho, e nela a dinâmica barroca verifica-se a partir do frontispício, destacando-se a portada monumental. Há, ainda, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, sede de uma irmandade de pretos, cuja planta desenvolve-se em elipses, bem como a Igreja de Santa Efigênia, pertencente a outra irmandade de pretos, por seu excepcional conjunto de talha, tendo ali trabalhado o entalhador e escultor Francisco Xavier de Brito, que colaborara na Matriz do Pilar.
Há inúmeros outros exemplares da arquitetura religiosa de Ouro Preto que apresentam características notáveis tanto em sua arquitetura quanto nas artes da escultura e da pintura em seus interiores. Na singularidade do barroco local, verifica-se a perfeita harmonia dos modelos tradicionais portugueses às condições e aos materiais ali encontrados, como, também, o emprego da alvenaria caiada com pedra-sabão.
A arquitetura civil caracteriza-se pela elegância e sobriedade das formas. Entre seus exemplares mais eruditos, destacam-se: o Palácio dos Governadores – projetado por Alpoim – que domina a praça principal e marca o poderio colonial; a Casa de Câmara e Cadeia (atual Museu da Inconfidência), do outro lado da praça – projetada pelo Governador Luís da Cunha Menezes – com linhas em espírito neoclássico; e a Casa dos Contos, vinculada aos modelos arquitetônicos do norte de Portugal, com seus robustos cunhais de pedra e detalhes mais apurados, trabalhados em cantaria.
Mais do que todas as cidades coloniais mineiras, Ouro Preto conseguiu, por diversos fatores, manter sua antiga imagem setecentista, sendo o exemplo mais autêntico da civilização urbana aqui implantada pelos colonizadores portugueses. Por isso, a cidade de Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional em 12 de julho de 1933; tombada em 20 de janeiro de 1938, processo nº 070-T-38, inscrição nº 39, constando do Livro de Belas Artes, p. 8; em 15 de setembro de 1986, inscrição nº. 512, constando do Livro Histórico, v. 1, p. 98, e inscrição nº. 98, constando do Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, p. 47. E, por fim, seu Conjunto Arquitetônico e Urbanístico foi inscrito pela Unesco na Lista do Patrimônio Cultural da Humanidade, em 21 de setembro de 1980.