Três bens da região Norte são reconhecidos como Patrimônio Cultural Brasileiro
Como parte de um ciclo de atividades que celebra e promove o Patrimônio Cultural da Região Norte do Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) realizou nos dias 08 e 09 de novembro a 90ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, em Belém (PA). Nesses dois dias de discussões, os conselheiros avaliaram os pedidos de reconhecimento de três bens: o Marabaixo, do Amapá; o Complexo Cultural Boi Bumbá do Médio Amazonas e Parintins, do Amazonas; e um geoglifo do Acre.
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural é o órgão colegiado de decisão máxima do Iphan para as questões relativas ao patrimônio material e imaterial. São 22 conselheiros que representam o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.
No primeiro dia dessa simbólica reunião de número 90, foram definidos os registros do Marabaixo e do Complexo Cultural Boi Bumbá como Patrimônios Culturais do Brasil. As duas manifestações culturais são tradicionais da região Norte e estão sendo destacadas por sua fundamental importância enquanto referência cultural brasileira. Já no dia 09, foi avaliada a pertinência do tombamento do geoglifo localizado no Sítio Arqueológico Jacó Sá, em Rio Branco (AC), como exemplar das estruturas também conhecidas como tatuagens da terra.
Devoção e resistência negra
Fruto da organização e identificação predominante entre as comunidades negras do Amapá, o Marabaixo é uma expressão cultural de devoção e resistência que representa tradições e costumes locais e reúne ritmo, dança, vestimentas, comidas e literatura. A origem do nome da manifestação remete aos escravos que morriam nos navios negreiros; seus corpos eram jogados na água e os negros cantavam hinos de lamento mar abaixo e mar acima. Os negros escravizados passaram a fazer promessas aos santos que consagravam, e quando a graça era alcançada se fazia um Marabaixo. Sua herança é deixada de pai para filho, e está associada ao fazer religioso do catolicismo popular em louvor a diversos santos padroeiros. Por ser uma forma de expressão que reúne referências culturais vivenciadas e atualizadas pelos amapaenses, fundamental para a construção e afirmação da identidade cultural negra brasileira, além de compor a memória, a identidade e a formação da nossa sociedade, o Marabaixo poderá ser registrado pelo Iphan no Livro de Registro das Formas de Expressão.
Enredo e drama na grande festa do Boi
São muitos os modos de brincar que celebram o Boi Bumbá pelo Brasil. Na região Norte, o folguedo se estabeleceu de forma marcante nas regiões do Médio Amazonas e Parintins (AM), misturando uma série de danças, músicas, drama e enredo que faz o coração dos brincantes e do público pulsar forte e é uma das mais tradicionais e reconhecidas expressões culturais do país. Com influências das missões jesuíticas, agregando referências indígenas e negras e, também de outras regiões, como o Nordeste, os Bois se caracterizam por fortes elementos marcados na transmissão do folguedo, na construção das identidades sociais e no intenso envolvimento das comunidades na preparação de seus três formatos – Boi de Arena, Boi de Terreiro e Boi de Rua – e dos inúmeros saberes que constituem o chamado Complexo do Boi Bumbá do Médio Amazonas e Parintins. Caso seja reconhecida pelo Conselho Consultivo, a manifestação cultural será registrada no Livro de Registro das Celebrações.
Tatuagens da terra
As estruturas conhecidas como geoglifos são um tipo de sítio arqueológico, formado por estruturas escavadas no solo, valetas e muretas que representam figuras geométricas de diferentes formas e grandes dimensões. Essenciais para entender o processo de ocupação e povoamento da região amazônica, onde grupos indígenas modificaram o ambiente e imprimiram na terra as características de sua identidade, essas marcas são numerosas na região Norte do país, em especial, no Acre. Em Rio Branco, o Sítio Arqueológico Jacó Sá poderá ter o primeiro geoglifo tombado pelo Iphan, destacado pelo seu fácil acesso e clara identificação pelos visitantes, oferecendo, além de sua já reconhecida importância científica, histórica e afetiva, também um potencial de atrativo turístico. Junto aos demais geoglifos do Estado, ele está inserido na Lista Indicativa a Patrimônio Mundial, destacados por sua excepcionalidade e relevância enquanto exemplares únicos do patrimônio histórico de todo o mundo.
A riqueza e a diversidade do Norte do Brasil
Reunindo Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, a região Norte é formada por múltiplas belezas naturais e culturais. Possui dezenas de edificações e monumentos protegidos pelo Iphan, mais de cinco mil sítios arqueológicos, além de expressões culturais como o Círio de Nazaré, no Pará, e a Arte Gráfica Wajãpi, do Amapá, que são, também, Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Com a proposta de promover e valorizar esse rico Patrimônio Cultural, o Iphan realizou atividades durante todo o ano, que culminam em uma série de eventos que serão realizados em Belém (PA), entre os dias 05 e 09 de novembro. Nos dias 06 e 07, a capital paraense recebe o Seminário Internacional Gestão do Patrimônio Cultural do Norte, reunindo palestrantes e participantes de diversas partes do Brasil e do mundo. Também no dia 07 será lançada a nova edição da Revista do Patrimônio, publicada em dois volumes voltados para a temática do Norte. Depois da reunião do Conselho Consultivo, a grande festa da 31ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade será realizada no dia 09 de novembro, no Teatro da Paz, celebrando a maior premiação da área de Patrimônio Cultural no Brasil.
Serviço:
90ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Data: 08 e 09 de novembro, às 09h
Local: Museu Histórico do Estado do Pará, Cidade Velha – Belém (PA)
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