Legado cultural indígena: um patrimônio brasileiro

Bonecas KarajáO legado cultural dos povos indígenas tem singular relevância para a formação da identidade cultural do povo brasileiro. De acordo com o IBGE (Censo 2010), são 305 etnias indígenas, falantes de 274 idiomas, que mantêm viva a cultura dos povos originários no Brasil e, portanto, se somam às comunidades que atuam diariamente na salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro.

Em 19 de abril, declarado como Dia dos Povos Indígenas no Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) celebra as culturas indígenas destacando os seus bens culturais registrados como Patrimônio Cultural do Brasil e as línguas indígenas incluídas no Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL). Essa é uma parte do extenso repertório de referências culturais indígenas que integra a diversidade cultural brasileira.

Os Saberes e Práticas Associados ao Modo de Fazer Bonecas Karajá - patrimônio imaterial inscrito pelo Iphan, em 2012, no Livro de Registro dos Saberes - são uma referência cultural significativa para o povo Karajá e representam, muitas vezes, a única ou a mais importante fonte de renda das famílias. Mais do que objetos meramente lúdicos, as ritxòkò são consideradas representações culturais que comportam significados sociais profundos, reproduzindo o ordenamento sociocultural e familiar dos Karajá. Com motivos mitológicos, de rituais, da vida cotidiana e da fauna, as bonecas karajá são importantes instrumentos de socialização das crianças que se veem nesses objetos e aprendem a ser Karajá, recebem ensinamentos, conhecem as técnicas e saberes associados à sua confecção e usos.

Rtixòkò: Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá foi inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão, em 2012, e é uma referência cultural significativa para o povo Karajá. A pintura e a decoração das cerâmicas estão associadas à pintura corporal dos Karajá e às peças de vestuário e adorno consideradas tradicionais. Indicativos de categorias de gênero, idade e estatuto social, a pintura e os adereços complementam a representação figurativa das bonecas, que identificam então “o Karajá” homem ou mulher, solteiro ou casado, com todos os atributos que a cultura cria para distinguir convencionalmente essas categorias.

No Sistema Agrícola Tradicional do Alto Rio Negro o uso da mandioca representa um dos pilares da cultura dos povos da regiãoSistema Agrícola Tradicional do Rio Negro é entendido como um conjunto estruturado, formado por elementos interdependentes: as plantas cultivadas, os espaços, as redes sociais, a cultura material, os sistemas alimentares, os saberes, as normas e os direitos. Sua inscrição no Livro de Registro dos Saberes foi realizada em 2010. As especificidades do Sistema são as riquezas dos saberes, a diversidade das plantas, as redes de circulação, a autonomia das famílias, além da sustentabilidade do modo de produzir que garante a conservação da floresta.

O Ritual Yaokwa do Povo Indígena Enawene Nawe - é a mais longa e importante celebração realizada pelo povo indígena Enawene Nawe, que habita uma única aldeia localizada na região noroeste do Estado do Mato Grosso. Parte fundamental do Yaokwa ocorre quando se dá a saída dos homens para a realização da pesca coletiva de barragem. Inscrito no Livro de Registro de Celebrações, em 2010, esse ritual é considerado a principal cerimônia do complexo calendário dos Enawene Nawe, povo indígena de língua Aruak, cujo território tradicional e Terra Indígena estão localizados na região noroeste do estado de Mato Grosso. Em 2011, a Unesco incluiu o Ritual Yaokwa na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial que Requer Medidas Urgentes de Salvaguarda.

Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi - é um sistema de representação gráfico próprio dos povos indígenas Wajãpi, do Amapá, que sintetiza seu modo particular de conhecer, conceber e agir sobre o universo. Como patrimônio imaterial, a Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi foi inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão, em 2002. No ano seguinte, recebeu da Unesco o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Os Wajãpi do Amapá constituem um grupo remanescente de um povo, que antes, era muito mais numeroso, subdividido em vários grupos independentes e cuja população total foi estimada em cerca de 6 mil pessoas no começo do século XIX. Esta etnia tem origem em um complexo cultural maior, de tradição e língua tupi-guarani, hoje representado por diversos povos, distribuídos entre vários estados do Brasil e países adjacentes.

O Sítio Arqueológico São Miguel Arcanjo abriga o lugar chamado Tava, denominação atribuída pelos Guarani Mbyá ao local de origem de seu povo, onde viveu e deixou suas marcasTava, Lugar de Referência para o Povo Guarani - inscrito no Livro de Registro de Lugares, em dezembro de 2014. Para os Guarani-Mbyá, a Tava é um local de onde viveram seus antepassados, que construíram estruturas em pedra nas quais deixaram suas marcas, e parte de suas corporalidades, por conter os corpos dos ancestrais que se transformaram em imortais; onde são relembradas as belas palavras do demiurgo Nhanderu. Nesses locais, é possível vivenciar o bom modo de ser Guarani-Mbyá e esse modo de viver permite tornar-se imortal e alcançar Yvy Mara Ey (a Terra sem Mal). A Tava também é considerada um lugar de referência por ser um espaço vivo que articula concepções relativas ao bem-viver, integra narrativas sobre a trajetória deste povo e é diariamente vivenciada como lugar de atividades diversas e de aprendizado para os jovens. Seu valor patrimonial reside na sua capacidade de comunicar temporalidades, espacialidades, identidades e elementos da cultura indígena cravada na história brasileira.

Cachoeira de Iauaretê – Lugar Sagrado dos Povos Indígenas dos Rios Uaupés e Papuri  - corresponde a um lugar de referência fundamental para os povos indígenas que habitam a região banhada pelos rios Uaupés e Papuri, reunidos em dez comunidades, multiculturais na maioria, compostas pelas etnias de filiação linguística Tukano Oriental, Aruak e Maku. Sua inscrição no Livro de Registro dos Lugares foi realizada em 2006. Localizada na região do Alto Rio Negro, distrito de Iauaretê, município de São Gabriel da Cachoeira, no Estado do Amazonas, ela corresponde a um lugar de referência fundamental para os povos indígenas que habitam a região banhada pelos rios Uaupés e Papuri.

Diversidade linguística

Sete línguas estão incluídas no Inventário Nacional da Diversidade Linguística como Referência Cultural Brasileira, das quais seis são indígenas. São elas: Asurini do Trocará, que pertence ao tronco Tupi, da família linguística Tupi-Guarani, cujos falantes habitam a Terra Indígena Trocará, localizada às margens do rio Tocantins, em Tucuruí (PA); e a língua Guarani M'bya, identificada como uma das três variedades modernas da língua Guarani, da família Tupi-Guarani, tronco linguístico Tupi. Também são referências as línguas Nahukuá, Matipu, Kuikuro e Kalapalo, de família linguística Karib e falada na região do Alto Xingu (MT).

Mapa Etno-histórico do Brasil e Regiões Adjacentes é uma das mais célebres obras cartográficas produzidas no Brasil, em 1943, considerada um marco dos estudos sobre as línguas e culturas indígenas. São mais de 900 referências sobre etnias e línguas indígenas coletadas entre os séculos XVI e XX catalogadas no Mapa Etno-Histórico do Brasil e Regiões Adjacentes, de Curt Nimuendajú. Utilizando a técnica de restauração digital, a versão original do mapa, que mede quatro metros quadrados, foi fotografada quadrante por quadrante, em alta resolução. Com isso, é possível, na versão digital, visualizar as informações em tamanho ainda maior que em sua versão física. 

Detalhes do Mapa Etno-Histórico (nova edição), com destaque para cores, tipografias e formas

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