Nordeste
Tudo começou no mar calmo de Porto Seguro, litoral sul da Bahia, na Região Nordeste. Ali, o patrimônio edificado e o simbólico unem-se no local de origem da nação brasileira, o espaço e lugar do primeiro contato dos portugueses com o povo Tupiniquim, nas terras onde Pedro Álvares Cabral e seus comandados desembarcaram, em 1500. Dividida entre Cidade Alta e Cidade Baixa, Porto Seguro possui um patrimônio de grande valor artístico, arquitetônico e urbanístico da época colonial. A área total do município é tombada e dois monumentos - um natural e outro edificado - sintetizam a importância histórica deste sítio: o Monte Pascoal, com 536 metros de altitude, primeiro local avistado pelos portugueses; e o Marco do Descobrimento, erguido na Cidade Alta com um metro e meio de altura, onde foram esculpidas as Armas de Portugal e a Cruz de Cristo.
Na Bahia, também está um dos mais importantes exemplares do urbanismo português que é Salvador – cujo centro histórico foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1985. Sua fundação e povoação envolveu centenas e centenas de artesãos, voluntários, marinheiros, condenados, soldados e sacerdotes, trazidos de Portugal. Dominando a imensa Baía de Todos os Santos, a “cidade fortaleza” defendia um ponto estratégico da costa brasileira e era passagem obrigatória das embarcações vindas da África e da Ásia. Não muito longe de Salvador, localiza-se a Ilha de Itaparica onde aldeias indígenas deram lugar aos engenhos de açúcar, a grande riqueza do Recôncavo Baiano no período colonial. A posição estratégica tornou-a alvo de invasores que tentavam conquistar Salvador, a capital da Colônia, e as ricas vilas de Maragogipe e Cachoeira. Constantemente atacada por navios franceses e holandeses, teve seus engenhos incendiados apesar do grande número de fortalezas construídas para combatê-los.
Cidades
Marechal Deodoro (AL)
Penedo (AL)
Piranhas (AL)
Cachoeira (BA)
Igatu (Andaraí - BA)
Itaparica (BA)
Lençóis (BA)
Monte Santo (BA)
Mucugê (BA)
Porto Seguro (BA)
Rio de Contas (BA)
Salvador (BA)
São Félix (BA)
Aracati (CE)
Icó (CE)
Sobral (CE)
Viçosa do Ceará (CE)
Alcântara (MA)
São Luís (MA)
Areia (PB)
João Pessoa (PB)
Goiana (PE)
Igarassu (PE)
Olinda (PE)
Recife (PE)
Oeiras (PI)
Parnaíba (PI)
Piracuruca (PI)
Natal (RN)
Laranjeiras (SE)
São Cristóvão (SE)
Indo mais em direção ao Oeste, ainda na Bahia, surge a Chapada Diamantina que se destaca entre as mais belas regiões do interior do Brasil e abriga as cidades de Lençóis, Mucugê e Rio de Contas, além de Igatu - uma vila no município de Andaraí. Considerada um museu vivo da história da mineração de diamante no Brasil, Igatu é conhecida como a "Machu Picchu Baiana", em uma referência à histórica cidade peruana de pedra. Encravado entre afloramentos rochosos, ruínas históricas, rios e cachoeiras está o seu casario histórico construído com pedras, no século XIX. Outro importante sítio histórico é a cidade baiana de Monte Santo – fundada em território muito acidentado e seco, onde se estabeleceu Antônio Conselheiro, em 1893, com seus seguidores. Conselheiro fundou a povoação de Belo Monte, conhecida como Canudos, cenário de um dos mais dramáticos episódios da história brasileira.
Nos povoados do interior se cruzavam inúmeros caminhos: os que levavam ao litoral de onde partiam navios carregados de produtos da colônia para a Europa e onde aportavam com produtos europeus destinados aos senhores da colônia; e os que cortam o sertão em direção aos mais longínquos povoados e vilas, ou às capitais das províncias. Não muito distante do litoral, estão Marechal Deodoro (AL), Aracati (CE), Parnaíba (PI), Laranjeiras e São Cristóvão (SE). Laranjeiras - construída em torno do porto no rio Cotinguiba - foi a mais importante cidade sergipana e berço da economia da província. Às margens do rio São Francisco - que banha vários estados nordestinos - cresceram cidades como Penedo e Piranhas (AL) com a economia sustentada pela navegação fluvial para transporte de cargas e passageiros. O mesmo ocorreu com Cachoeira e São Félix (BA), às margens do rio Paraguaçu.
O rico patrimônio tombado é fruto, em grande parte, da prosperidade dos engenhos de açúcar que deram origem às vilas em pontos estratégicos do território, margeando os rios e não muito longe dos portos. No Piauí - onde estão Oeiras e Piracuruca -, ao contrário do que ocorreu em outros estados, a colonização não foi iniciada pelo litoral, e estas cidades são o resultado, principalmente, da interiorização da criação do gado. Em uma região de vegetação que se difere bastante do clima árido do sertão, está Areia (PB) uma pequena cidade construída no topo da Serra da Borborema, a 618 metros de altitude. Ali nasceram o pintor Pedro Américo e o escritor José Américo de Almeida, e o acervo do Museu de Pedro Américo inclui uma réplica da famosa obra O Grito do Ipiranga, encomendada por Dom Pedro II. Outra cidade nordestina situada em área serrana é Viçosa do Ceará - importante vila de índios e uma das principais missões jesuítas do país, datada do século XVII -, erguida na Serra de Ibiapaba, a 740 metros de altitude e cercada de vegetação nativa e fontes de águas cristalinas.
Durante o período do Brasil Colônia, destacaram-se três núcleos urbanos no litoral: o Estado do Maranhão e Grão-Pará (Alcântara e São Luís); Pernambuco (Olinda e Recife) do qual fazia parte Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte; e a Bahia, capital da administração e da fé. Nestas, o legado cultural foi construído a partir da riqueza acumulada com vantagens oferecidas pela localização geográfica à exportação de algodão, cana-de-açúcar e outros produtos. Entretanto, a riqueza de Recife - principal cidade da Capitania de Pernambuco e conhecida em todo o mundo comercial da época - despertou a cobiça dos holandeses que invadiram e ocuparam a cidade durante 24 anos. Olinda, bem próxima, também sofreu com a invasão dos holandeses.
Franceses e holandeses disputaram com os portugueses o controle territorial do Nordeste, por um bom tempo, e inúmeras fortificações foram erguidas ao longo da costa brasileira durante o período colonial, inclusive em João Pessoa (PB). Fundada em 1612, por franceses, São Luís (MA) recebeu este nome em homenagem ao então Rei da França, Luís XIII. A cidade sucumbiu ao domínio holandês até 1645, quando foi retomada pelos portugueses. Nesta capital e na vizinha Alcântara estão imponentes conjuntos arquitetônicos remanescentes dos séculos XVIII e XIX.
A arquitetura religiosa resultou da presença dos padres e missionários franciscanos (Alagoas e Pernambuco), beneditinos (Bahia) e carmelitas (Maranhão e Pernambuco). As ordens religiosas ergueram edificações e, ao longo dos séculos, as construções religiosas passaram das antigas estruturas de palha e pau-a-pique para as suntuosas construções barrocas que chegaram aos nossos dias. Igrejas, conventos e fortalezas estão entre as edificações que mais se destacam pelo grande valor histórico e arquitetônico, construídas durante os períodos colonial e imperial do Brasil. Entre as fortalezas, está o Forte dos Reis Magos - fundamental para defesa contra os franceses - localizado em Natal (RN), cidade que, no século XX, sediou as bases militares das forças aliadas durante a 2ª Guerra Mundial.