Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade: público viaja pelo Brasil

Vencedores durante cerimônia de premiação no Clube do ChoroO público que esteve presente no Clube do Choro de Brasília pode acompanhar a cerimônia de entrega do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, na terça-feira, dia 27 de outubro. A noite de festa foi uma interessante viagem por sete estados do país que permitiu conhecer as oito ações premiadas na 28ª edição da premiação, promovida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O passeio se deu por meio de narrativas apresentadas em vídeos, que documentaram cada ação, e dos discursos de agradecimento dos vencedores.

Segundo a presidenta do Iphan, Jurema Machado, cada ação apresentada reforçava o fato de que, nos últimos anos, a sociedade civil está se apropriando da agenda de preservação do patrimônio como um território de estabelecimento de valores, desejos e campos em disputa. “A sociedade civil se apropria dos vocabulários e das técnicas da preservação que, antes, eram considerados algo muito especializado, sob o domínio de poucos, mas que hoje estão perfeitamente incorporados nessas iniciativas. Tudo isso é muito alentador e não deixa de ser resultado de uma política vitoriosa”, explicou.

O secretário-executivo do Ministério da Cultura, João Brant, ressaltou que é preciso expandir pelo país a consciência de que há uma história em comum entre a população brasileira e os fazeres e saberes que mantêm uma ligação profunda com a vida de cada um. “Quando nos encontramos nesse território do patrimônio coletivo, temos condições de colaborar para um futuro que diz respeito a todos, um futuro em que cada manifestação cultural, ainda que de um recanto remoto do Brasil, desperte em nós a sensação de reconhecimento e identificação. Estamos descobrindo uma coisa que era nossa há séculos”.

Sudeste preservado

Autor do documentário Remeiros de São Francisco (MG), que demorou 25 anos para ser finalizado, Dêniston Fernandes Diamantino, agradeceu ao Iphan pelo prêmio e aproveitou para contar um momento marcante das filmagens da obra homenageada. “O primeiro depoimento que gravei era o de um remeiro cujo sangue corria na vara e pingava no rio São Francisco. Ele dizia que via as piabas colhendo as gotas de sangue de todo aquele trabalho árduo. Naquele momento, eu percebi que aquilo era algo muito forte, muito importante e, infelizmente, muito esquecido”, disse, em tom emocionado. Filho de uma geração de barranqueiros – pessoas que moram à margem do rio –, Dêniston ressaltou ainda que o Velho Chico pede socorro: “Queremos o São Francisco vivo”.

Mãe Beata de Iemanjá foi representada pela Dofonitinha de Oxum Luciane Barros:

Mãe Beata de Iemanjá, proponente da ação carioca IléOmiojúàrò: Patrimônio Cultural, foi representada pela Dofonitinha de Oxum Luciane Barros: “É uma grande felicidade a conquista desse reconhecimento para a comunidade de candomblé, para nós, povos tradicionais da matriz africana e povo de axé brasileiro. Com nossa liberdade ameaçada, lutamos pelo fim do racismo e pelo estado laico”, agradeceu com a voz embargada.

Tradições centenárias

Para receber o prêmio pela ação Preservação da Tradição e da Cultura do Centro-Oeste Goiano através da Trilogia Bariani Ortêncio, subiu ao palco a historiadora Izabel Signorelli. “Queria registrar aqui o carinho que Seu Bariani tem com a cultura popular e com o folclore. É um trabalho de mais de 40 anos, e especialmente focado nas crianças que, para ele, precisam conhecer suas origens e suas tradições. Eles precisam saber a importância de uma parteira, de uma raizeira ou de um curandeiro”, destacou. “Viva o folclore! Era o que ele iria dizer, se estivesse aqui”, concluiu Izabel Signorelli.

Paulo Volles, da ação Levantamento das Casas Enxaimel de Blumenau (SC), demonstrou toda sua alegria e surpresa por ter tido seu projeto escolhido. Ele revelou, no palco, que não tinha grandes expectativas quando se inscreveu no prêmio. “Vocês não imaginam a minha alegria e alívio em estar aqui. Pensei em tentar porque não tinha nada a perder. Pouco tempo depois, recebi uma carta dizendo que havia sido selecionado para a etapa final”, relatou o carpinteiro. “Fico aliviado em conhecer o Iphan e ver que a instituição pensa como nós”, completou.

O Grupo Uirapuru – Orquestra de Barro (CE) foi representado pelo criador do projeto musical, Tércio Araripe. “A história do barro tem uma força ancestral muito forte. Para a comunidade de Moita Redonda, é importantíssimo vincular nosso trabalho a uma entidade como o Iphan”, disse o luthier, em nome das crianças, integrantes da orquestra, e de todos os moradores do povoado cearense que sobrevive do artesanato. 

O quilombo indígena Tiririca dos Criolos, de Pernambuco, ganhou reconhecimento por meio da ação Do Buraco ao Mundo. No palco, o antropólogo Nivaldo Aureliano Léo Neto recitou uma poesia e agradeceu o prêmio em nome da comunidade. “O que está sendo premiada é nossa resistência. Resistência perante direitos que estão sendo constantemente ameaçados. No caso da Tiririca, são direitos de território e dos povos indígenas e quilombolas. Território é mais do que terra. Território é uma escola, por exemplo, o patrimônio daquelas pessoas. Não me canso de dizer isso: a vida é o maior patrimônio que nós temos”, destacou Nivaldo, arrancando aplausos calorosos da plateia.

Mistura de povos

O  Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros (GO) foi recebido por Juliano Basso e Aristelina Avelino.O prêmio destinado ao Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros (GO) foi recebido por Juliano Basso e Aristelina Avelino, que agradeceram em nome das comunidades do Centro-Oeste. “Essa valorização do patrimônio imaterial é um belíssimo trabalho. O Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade vai fazer com que a gente possa promover ainda mais essa mistura de povos. O Brasil, na verdade, é um grande encontro de culturas, e a gente ainda está misturando o caldeirão”, enfatizou Juliano.

O último premiado da noite foi o professor de História Luis Guilherme Moreira Baptista, idealizador da ação Re(vi)vendo Êxodos, nascida em 2001, no Centro de Ensino Médio Setor Leste, e que incentiva os estudantes a conhecerem a história do Distrito Federal e do entorno. “Esse projeto tem mil facetas, mil construções dentro dele. Obrigado a todos: escolas, alunos, professores e apoiadores envolvidos nesse trabalho”, começou o professor. “Nós não vamos parar, fomos longe e não paramos. Continuamos, reaprendendo a caminhar. Não é fácil transformar o olhar, mas continuamos a caminhada. Sabemos que a estrada é árdua, longa e difícil, mas a estrada nos pertence”, finalizou Luis Guilherme.

A celebração foi encerrada com show do Reco do Bandolim, que se apresentou ao lado da banda Choro Livre. Como o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade este ano também celebrou os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, o repertório da noite foi composto de canções de artistas brasileiros consagrados, que representam a Cidade Maravilhosa, como Tom Jobim, Ari Barroso e Ernesto Nazaré.

Capa da revista da 28ª Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade

A versão online da revista da 28ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade já está disponível. Acesse e viaje pelo Brasil com as ações premiadas!

Clique na imagem para download da revista.

 

 

 

 

 

 

 

 

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